Nova resolução do CNE gera incertezas para diplomas EAD: impactos na educação e pesquisa no Brasil

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Abimael Teixeira
Abimael Teixeira
Advogado e especialista em direito educacional.

Exigência de comprovante que demonstre período de estada no exterior como um dos requisitos para obtenção de revalidação ou reconhecimento de diplomas atingem diretamente alunos na modalidade a distância, pois podem não ter seus diplomas regularizados no Brasil.

Em 19 de dezembro de 2024, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou a Resolução CNE/CES nº 2, estabelecendo novas diretrizes para a revalidação de diplomas de graduação e o reconhecimento de diplomas de pós-graduação stricto sensu emitidos por instituições estrangeiras.

Embora a iniciativa vise padronizar e assegurar a qualidade dos títulos reconhecidos no Brasil, uma exigência específica tem gerado apreensão entre estudantes que optaram por cursos de mestrado e doutorado na modalidade a distância (EAD) oferecidos por universidades estrangeiras.

O Artigo 20, parágrafo 4º, inciso VII, da referida resolução, determina que o requerente apresente “comprovante que demonstre o período da estada no exterior quando da realização do curso”.

No novo inciso não há distinção entre cursos presenciais e a distância, implicando diretamente aqueles que concluíram programas EAD, pois devem comprovar residência no país da instituição durante o período do curso. Tal exigência desconsidera a natureza dos cursos á distância, nos quais a presença física não é requerida, impondo uma barreira praticamente intransponível para esses estudantes.

A imposição dessa comprovação afeta diretamente milhares de brasileiros que, devido á limitações de oferta, barreiras geográficas e financeiras, buscam na educação a distância internacional uma alternativa viável para avançar em suas formações acadêmicas. Ao dificultar o reconhecimento desses títulos, o governo não apenas desestimula a busca por qualificação, mas também contraria uma tendência global de valorização e expansão do ensino a distância.

É paradoxal que, enquanto nações desenvolvidas investem e incentivam a educação a distância como meio de democratizar o acesso ao conhecimento e fomentar a pesquisa científica, o Brasil adote medidas restringindo esse acesso.

A falta de clareza e a rigidez da nova resolução já provocam um clamor entre os estudantes que dedicaram tempo e recursos financeiros em cursos de mestrado e doutorado a distância, estando agora incertos quanto ao reconhecimento de seus diplomas em território nacional.

Recentemente, o governo tem sido marcado por decisões impopulares, muitas das quais resultaram em recuos diante da pressão pública. Manter uma portaria que desconsidera a realidade da educação a distância e penaliza aqueles que buscam aprimoramento acadêmico é perpetuar uma política diversa dos interesses da sociedade.

É inaceitável um país com as dimensões e desafios do Brasil limitar o acesso ao ensino a distância, indo na contramão das grandes potências mundiais que reconhecem e incentivam essa modalidade educacional.

Ao dificultar o reconhecimento de mestrados e doutorados a distância, o governo não apenas centraliza a pesquisa científica nas mãos de uma minoria, como também compromete o desenvolvimento nacional.

A falta de acesso à pesquisa impacta diretamente o progresso do país, e, da mesma maneira, fechar as portas para o reconhecimento de títulos obtidos a distância é promover um apagão científico. Seria mais sensato que o governo ouvisse a comunidade acadêmica e os pesquisadores antes de implementar medidas que atentam contra a pesquisa e a educação.

Dado que o Brasil não consegue oferecer vagas suficientes em suas universidades para atender à demanda por mestrados e doutorados, é imperativo permitir e incentivar estudantes buscarem essas oportunidades em instituições estrangeiras, especialmente na modalidade a distância. Assim como o país importa produtos essenciais quando há escassez interna, deve também facilitar o acesso de seus cidadãos à educação internacional de qualidade, reconhecendo os diplomas obtidos dessa forma.

É sabido que alguns reitores e acadêmicos tradicionais resistem ao ensino a distância, buscando manter padrões e o status quo. No entanto, a democratização da educação por meio da pesquisa a distância transcende questões de ego e representa uma necessidade urgente.

O governo, além de não investir adequadamente na oferta de vagas em programas stricto sensu, está agora impedindo estudantes que investem recursos próprios tenham seus títulos reconhecidos, silenciando e privando buscarem oportunidades em universidades estrangeiras na modalidade a distância.

O partido político atualmente no governo sempre sustentou a narrativa de ouvir as bases e as pessoas diretamente afetadas por suas decisões. No entanto, nesse caso específico, não houve consulta a professores, universidades ou associações de classe. O governo não buscou dialogar com a população diretamente impactada pela portaria. Chegou o momento de o governo brasileiro decidir se ficará ao lado da pesquisa científica, do desenvolvimento e da sociedade, representada por esses estudantes, ou se alinhará aos interesses daqueles que desejam manter a pesquisa restrita a uma minoria. A escolha que se faz hoje determinará o futuro da educação e da ciência no país.

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