Guerra tarifária: Brasil pode vender mais, porém concentrado em commodities

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Tulio Cariello
Tulio Cariello (foto divulgação CEBC)

O aumento da demanda chinesa por produtos da indústria verde impulsionou vendas de cobre, manganês, ferro, níquel e elementos raros no primeiro trimestre de 2025. E no setor de manufaturas, as exportações de torneiras e válvulas do Brasil para a China cresceram quase 13 vezes, com embarques que somaram US$ 35 milhões. As vendas de aparelhos mecânicos saltaram quase 100 vezes, chegando a US$ 23 milhões. Essas encomendas são anteriores às novas tarifas de Trump, ou se devem às novas políticas dos EUA?

Em ambos os casos não há relação com as tarifas, pois os dados são relativos ao primeiro trimestre de 2025, quando a “guerra tarifária” entre EUA e China e o “tarifaço” que Trump colocou em todo o mundo ainda não haviam escalado ao nível atual. Esse tipo de desvio de comércio também pode levar algum tempo, pois demanda busca por novos fornecedores em outros países, negociações, burocracias, ou seja, não é um processo automático. Os resultados do “tarifaço” provavelmente serão vistos nos próximos meses e dependerão de como devem avançar as negociações entre os países para ajustar essas taxas.

Há perspectivas de aumentar a exportação de produtos com maior valor agregado e de commodities?

Certamente o Brasil poderá aumentar exportações de produtos agrícolas para o mercado chinês, onde competimos com os Estados Unidos em áreas como carnes e, sobretudo, soja. Isso aconteceu no primeiro mandato de Trump quando ele inaugurou a então chamada “guerra comercial” e pode ocorrer novamente.

Na área de produtos manufaturados, alguns analistas argumentam que haveria espaço para mais produtos brasileiros no mercado americano, onde disputamos com alguns produtos chineses – apesar de eles serem, no geral, muito mais competitivos que os nossos.

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De qualquer forma, é difícil ver alguém ganhando de fato com nesse cenário. Acredito que no fim, mesmo com alguns ganhos pontuais nas nossas exportações de produtos agrícolas para a China, todos saem perdendo. Esse “tarifaço” é um ataque direto ao multilateralismo e ao comércio internacional baseado em regras minimamente consensuais.

A compra de uma plataforma de petróleo chinesa em fevereiro reconfigurou temporariamente a pauta de importações do Brasil com origem no país asiático, alçando o item ao primeiro lugar. Essa compra está relacionada ao planejamento estratégico divulgado recentemente pela presidente da Petrobras?

China e Brasil são parceiros estratégicos na área de petróleo. A China é o principal destino das nossas exportações de petróleo, e só em 2024 comprou quase metade de tudo o que foi exportado pelo Brasil. Além disso, algumas das maiores empresas chinesas, como a CNPC, CNOOC e Sinopec, têm operações consolidadas no Brasil e investiram bilhões de dólares na última década, como na exploração de petróleo no pré-sal.

Essa relação também se fortalece na área comercial com as importações nacionais de plataformas de perfuração ou exploração chinesas, algo que não é inédito – o Brasil já fez compras do tipo em outros anos, como em 2018, 2019 e 2020.

O aumento da compra de painéis solares pode indicar um incremento numa matriz energética mais limpa?

O Brasil já tem a matriz elétrica mais limpa do G20, é líder global em biocombustíveis e tem espaço para debates e avanços tecnológicos na área de transição energética. O aumento de importações de painéis solares indica que esse mercado tem crescido no Brasil, assim como de outros produtos “verdes”, como carros eletrificados. Nesse sentido, a China, por dominar as cadeias globais de valor nessas e em outras áreas da transição energética, é um parceiro inescapável, o que demanda uma aproximação estratégica do Brasil com empresas chinesas, como já vem ocorrendo não apenas no comércio, mas também de investimentos.

As exportações totais do Brasil para a China no primeiro trimestre chegaram a US$ 19,8 bilhões, 13,4% a menos do que nos três primeiros meses de 2024, e é a primeira queda para o período desde 2015. No entanto, após registrar déficit de US$ 3,2 bilhões com a China no primeiro bimestre de 2025, o comércio bilateral voltou a ser favorável ao Brasil, que teve superávit de US$ 700 milhões com o país asiático no primeiro trimestre. Pode explicar como isso aconteceu?

Por depender essencialmente das vendas de commodities para a China, o Brasil está sujeito a altos e baixos nos preços de determinados produtos, como soja, petróleo e minério de ferro – commodities cujos preços costumam oscilar com frequência. Isso faz com que, eventualmente, mesmo com aumento do volume vendido, os preços baixos reduzam o faturamento das exportações. É o que aconteceu com a maioria desses produtos no primeiro trimestre.

Além disso, também há o encarecimento de diversos produtos industrializados que compramos da China, por motivos como flutuações cambiais, o que pode aumentar o valor de alguns itens. A retomada do superávit tem a ver com essas oscilações, mas também com a sazonalidade de alguns produtos, especialmente a soja, cujos volumes das vendas são maiores ou menores em momentos específicos, a depender da safra e da produção de países que competem com o Brasil no mercado chinês, como Estados Unidos e Argentina.



Fonte Monitor Mercantil

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