As academias de luxo vêm ganhando espaço em São Paulo, surfando na onda da ostentação de tempo livre e autocuidado que ganha espaço entre os consumidores de alta renda. A capital paulista conta com nomes como Le Cinq, Bio Ritmo e, em breve, a O2, de Goiânia. Essas academias apostam em infraestrutura sofisticada, serviços personalizados que vão além do personal trainer e têm localização estratégica para atrair um público disposto a pagar valores que superam facilmente R$ 1 mil por mês. Nesses locais, os agregadores de academias, como Wellhub (antigo Gympass) ou Total Pass, não têm vez.
A Le Cinq, instalada no Jardim Europa, se posiciona no segmento “boutique”. Academia mais cara de SP, ela tem atendimento exclusivo para os alunos, com treinos individualizados e ajustados para o resultado de cada pessoa, como perder peso, ganhar massa muscular ou preparar-se para uma prova de Iron Man, por exemplo.
Fundada em 2014 por Rodrigo Sangion, com o objetivo de oferecer um serviço diferenciado no mercado fitness, a Le Cinq se posiciona como um espaço premium, focado em atendimento personalizado e uma arquitetura exclusiva, distanciando-se das academias low-cost (baixo custo) e das convencionais. O perfil dos clientes inclui empresários, moradores do bairro (cerca de 70%) e artistas, com idades entre 25 e 60 anos (alguns chegam a 70 ou 80 anos). O público é exigente, busca resultados e cuidados, mas não vê o preço como fator primário na decisão.
A academia oferece, além do personal trainer, fisioterapeutas e nutricionistas, além de uma periódica avaliação de composição corporal para medir o progresso nas metas de cada aluno. As mensalidades podem chegar a R$ 3,5 mil.
“Nossa metodologia é muito ampla, abrange todos os objetivos. Temos treinamento específico para gestantes. Para maratonistas, temos um departamento de cardio que cuida do grupo de corrida no parque. Lá, preparamos as pessoas que estão interessadas em Iron Man ou em maratonas”, conta Sangion.
Rodrigo Sangion, gerente da academia Le Cinq Gym, na região dos Jardins, em SP, fundou negócio em 2014 Foto: Taba Benedicto
Atualmente, a Le Cinq opera com uma única unidade por escolha. Entretanto, a empresa diz se atentar a outros mercados que possam ter carência de um serviço personalizado e diferenciado, como o Rio de Janeiro. A academia tem capacidade para 600 alunos para não comprometer a experiência de uso em horários de pico.
A Bio Ritmo, marca de alto padrão de academias do Grupo Smart Fit, retoma a expansão das unidades neste ano, começando por uma academia no Shopping Ibirapuera. Com capacidade para 1,5 mil alunos, a unidade oferece não só planos com acompanhamento com personal trainers, mas espaço dedicado à prática de pilates e acompanhamento com profissionais de nutrição e fisioterapia para alinhar as atitudes do dia a dia e os treinos para atingir objetivos individuais.
A academia tem ainda espaço de bem-estar com maca para liberação miofascial e soltura muscular, além de botas de descompressão para relaxamento pós-treinos.
No plano mais caro, chamado Infinity, a Bio Ritmo também preza pela exclusividade. Por isso, o plano que está disponível apenas nesta unidade atualmente tem um limite de apenas 100 pessoas. A mensalidade é de R$ 1,8 mil e chega a R$ 1.920 mil ao incluir aulas de pilates.
Júlia Michelin, diretora-geral da Bio Ritmo, explica que o posicionamento de preço da unidade Ibirapuera é uma parte estratégica do novo conceito da marca, visando um público de alta renda e uma experiência premium. O custo para a abertura da unidade é estimado em R$ 10 milhões.
“Há um desejo de treinar com menos gente, sem ter de esperar 5 minutos para revezar, ter um ambiente com tudo limpinho e um vestiário incrível, no qual eu não espere para ir ao banheiro ou tomar banho”, diz Júlia.
Segundo a executiva, o preço entra na estratégia de negócio como um fator que limita o número de alunos para que o atendimento seja oferecido com qualidade pelos profissionais da academia.
“São pessoas que querem mais conforto na vida em geral, que normalmente trabalham duro, conquistaram bastante coisa nas suas carreiras e estão no momento de aproveitar o que foi conquistado. Isso tem de ser pensado pelas marcas que querem atender esse tipo de público”, afirma Júlia.
Diogo Corona, diretor de Operações do Grupo Smart Fit, diz que, após expandir a rede de academias de baixo custo, o momento é de ampliar o número de unidades da Bio Ritmo, levando os planos Infinity para regiões onde houver demanda por atendimento de saúde e bem-estar por consumidores de alta renda.
De acordo com o executivo, o Bio Ritmo planeja abrir mais 10 lojas nos próximos 12 meses. Além do Ibirapuera, os bairros Tatuapé e Santana estão no radar e uma unidade no Pacaembu também está prevista para o próximo ano. O plano de expansão inclui ainda Goiânia, Vila Velha (ES), duas unidades em Recife (Boa Viagem e Casa Forte, sendo a de Boa Viagem potencialmente a maior de todas), e Porto Alegre (no shopping Carlos Gomes). Já as academias existentes da marca também passarão por um retrofit para incorporar tanto o novo modelo de atendimento quanto as melhorias arquitetônicas.
“Nosso plano tem um bom custo benefício, porque a gente não cobra R$ 1,8 mil por status. Tem academias que cobram essa grana por status”, diz Corona.
Rede O2
Na onda das academias de luxo em SP, a rede de luxo O2 Fitness tem a cidade na mira para a abertura de uma unidade. As mensalidades da academia variam entre R$ 1,3 mil e R$ 10 mil e os alunos são selecionados pela empresa.
O plano de expansão da rede prevê investimento de R$ 100 milhões para levar academias a Brasília, Goiânia, Balneário Camboriú, Fortaleza, Imperatriz, Maringá e Campo Grande —, além de SP. Atualmente, a rede fatura cerca de R$ 30 milhões ao ano.
A O2 foi fundada por Paulo Albuquerque, ex-franqueado da Smart Fit em Brasília, e sua primeira unidade fica em Goiânia. Para captar alunos de alta renda, a unidade de SP está prevista para 2026 e ficará no Itaim Bibi. A unidade terá 700 m² e uma capacidade máxima de 700 alunos, visando manter a exclusividade e o alto padrão de serviço.
“Tenho um treinador para cada três pessoas dentro do salão. Ele vê tudo por meio de um aplicativo e vai estar ali ao lado do aluno. Ele pode também ir ao spa, vai ter nutricionista e uma infinidade de coisas que elevam o nosso custo por aluno”, conta Albuquerque.
Além de spa e nutricionista, a O2 oferece aos alunos sauna, banheiros com hidromassagem e salas de Reformer Pilates, além de monitoramento em tempo real da performance dos alunos por meio de pulseiras inteligentes, com dados que são exibidos em um aplicativo.
Com a contabilização da intensidade dos treinos, os alunos podem monitorar o progresso a cada sessão e avaliar o quanto estão se aproximando dos resultados de saúde e estética desenhados junto aos especialistas da academia.
“A principal barreira de entrada é a nossa escolha. Como não conseguimos colocar todo mundo para dentro, fazemos um filtro. Hoje, o filtro funciona pela indicação dos membros, que têm o direito de indicar pessoas novas e pela análise do perfil desses clientes”, afirma Albuquerque.
Tendência de luxo
Para Katherine Sresnewsky, coordenadora do hub de luxo da ESPM, a tendência de autocuidado, com foco em bem-estar e longevidade, tem se consolidado nos últimos anos entre os consumidores de luxo. Por isso, o número de academias de alto padrão e luxo vem aumentando, e a exclusividade e o nível de experiência crescendo.
“Essas academias de luxo têm algumas características que são muito importantes para esses consumidores. A primeira delas é o networking específico, porque você sabe que é seleto o grupo de consumidores que consegue participar desses ambientes. Há altíssima tecnologia envolvida, então, o investimento é muito grande em equipamentos de alto padrão. Além disso, há serviços complementares e a ambiência. Não é uma Smart Fit, é um ambiente mais sofisticado, glamourizado”, afirma.
Katherine diz que a criação desses espaços para o consumidor de alta renda não é algo típico no mercado e tem particularidades que podem ser atendidas somente por poucos empresários ligados nas tendências desse nicho de mercado e sabem como atrair os clientes certos.
“Não é só uma academia e onde você levanta peso, faz esforço físico. Tem de fato esse plus envolvido de ambientação, atendimento e excelência em todos os aspectos. Às vezes, as empresas têm de fazer uma troca sanguínea para conseguir conversar com o consumidor de luxo”, diz a especialista.
Fonte ONU