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Levon Biss/Forbes
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Ao longo da sua trajetória, Michele Kang sempre manteve o foco no resultado final. E foi essa mentalidade que a transformou em uma empreendedora bilionária. Em 2025, é a 28ª colocada na lista da Forbes das Mulheres Self-Made Mais Ricas dos EUA – aquelas que construíram suas próprias fortunas –, com um patrimônio estimado em US$ 1,2 bilhão (R$ 6,6 bilhões).
Formada em economia pela Universidade de Chicago e com MBA em Yale, ela fundou a Cognosante, empresa de tecnologia da informação voltada para a saúde, em 2008. Depois de 16 anos, vendeu a companhia por mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões).
Mas Kang não previa seu segundo ato: tornar-se o principal rosto global do investimento no esporte feminino. Hoje, é dona de três clubes de futebol profissional: o Washington Spirit (dos EUA), o OL Lyonnais (França) e o London City Lionesses (Inglaterra). “Antes, eu não sabia quem era Leo Messi”, conta, rindo. “E agora, olha onde estou.”

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O London City Lionesses, de Michele Kang, garantiu neste ano a promoção para a Women’s Super League ao conquistar o título da segunda divisão da Inglaterra
Investindo milhões no futebol feminino
Kang assumiu o controle do Spirit em 2022, por US$ 35 milhões (R$ 193 milhões) – valor considerado alto à época, mas que hoje parece uma pechincha: A Forbes estima que o clube valha US$ 130 milhões (R$ 718 milhões).
O Angel City FC, de Los Angeles, foi vendido em 2023 por US$ 250 milhões (R$ 1,38 bilhão). Em janeiro, a liga anunciou Denver, no Colorado, como sua 16ª franquia, com taxa de expansão de US$ 110 milhões (R$ 607 milhões). “Foi a Michele que deu início a esse boom nas avaliações”, diz a comissária da NWSL, a liga profissional de futebol feminino dos EUA, Jessica Berman.
Kang tem uma meta ambiciosa: acredita que os times femininos poderão, em breve, ser negociados por mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões). E está investindo para que isso aconteça.
Entre a compra dos três clubes, aportes em startups esportivas lideradas por mulheres e uma doação de US$ 30 milhões (R$ 166 milhões) à Federação de Futebol dos EUA, ela já destinou mais de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) ao setor.
E segue em movimento: em fevereiro, discutiu com arquitetos a construção de um centro de treinamento na Inglaterra; em abril, doou US$ 25 milhões (R$ 138 milhões) à U.S. Soccer ao transferir o braço de pesquisa de sua holding, dedicado à biomecânica de atletas mulheres.
No entanto, o caminho até alcançar o valor dos times das grandes ligas masculinas norte-americanas – todos avaliados acima de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) – ainda é longo. As ligas femininas estão em estágio inicial, e muitos clubes ainda não se mostraram financeiramente sustentáveis.
O próprio Spirit, campeão da NWSL em 2021 e finalista em 2024, teve receita estimada em US$ 15 milhões (R$ 83 milhões) no ano passado. Já o D.C. United, da Major League Soccer, que joga no mesmo estádio, arrecadou US$ 90 milhões (R$ 497 milhões).
As grandes disparidades salariais, a cobertura desigual da mídia e casos de discriminação explícita levaram críticos a tratar o crescimento do esporte feminino como uma causa social. Mas Kang rejeita essa visão: “Não é caridade nem um projeto de diversidade”, diz. “Estou em uma missão para provar que esse não é apenas um negócio, mas um bom negócio.”

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Sob a gestão de Michele Kang, o clube Lyon conquistou títulos consecutivos na França
A trajetória de Michele Kang até o investimento em futebol
Desde jovem, Michele Kang nunca teve dificuldade em assumir o comando. Nascida e criada na Coreia do Sul, se recusava a praticar piano e preferia os esportes. Na faculdade, a empresária seguiu os passos do pai e foi estudar nos Estados Unidos.
Após concluir o MBA, tornou-se sócia da Ernst & Young, com foco em alta tecnologia e telecomunicações. Em 2000, foi para a TRW (Thompson Ramo Wooldridge), onde liderou a estratégia corporativa das divisões não-automotivas do conglomerado, responsável por desenvolver armas e espaçonaves.
Dois anos depois, com a aquisição da empresa pela gigante aeroespacial Northrop Grumman, surgiu uma oportunidade. “Eles me deram essa divisão de TI em saúde que estava fracassando miseravelmente”, conta. “Achavam que, se eu errasse, não teria muito como piorar.”
Mas o timing foi perfeito. Em 2004, o então presidente dos EUA George W. Bush lançou uma iniciativa para garantir que todos os americanos tivessem acesso aos próprios prontuários eletrônicos. A Northrop Grumman foi uma das quatro empresas selecionadas para construir a Nationwide Health Information Network e recebeu um contrato de US$ 68 milhões (R$ 375 milhões) para digitalizar os registros médicos do Departamento de Defesa dos EUA. Entre 2003 e 2007, Kang mais do que triplicou a receita da divisão.
“Sempre fui a primeira a mergulhar de cabeça enquanto os outros ainda estavam tentando entender o cenário.”
Michele Kang
Jornada empreendedora
Com expertise consolidada em TI para a saúde – um setor que ainda engatinhava tecnologicamente –, decidiu empreender. Em 2008, fundou a Cognosante a partir de um escritório na sua garagem em Maryland.
Segundo Kang, a empresa não fez nada revolucionário, mas soube preencher uma lacuna. Com hospitais e farmácias migrando seus registros do papel para o digital, muitos sistemas não se comunicavam entre si. A Cognosante conectava esses pontos, permitindo o acesso a informações médicas e exames de qualquer lugar, e com foco especial em órgãos públicos estaduais.
A companhia cresceu a ponto de Kang ter que escolher entre abrir capital ou trazer uma nova gestão. No ano passado, vendeu a Cognosante para uma subsidiária da gigante irlandesa Accenture. “Em algum momento, se você quer realmente competir com os grandes players, precisa de outro tipo de liderança”, afirma. “Desde o início, sabia que dez anos seria o máximo que estaria à frente dessa organização.”
Um passo ousado na carreira
Kang imaginava que a próxima década seria dedicada à filantropia – e esse ainda era o plano quando, em 2020, assinou um cheque de US$ 2 milhões (R$ 11 milhões) por 35% do Washington Spirit. O interesse surgiu após conhecer os donos do time em uma recepção em Washington, organizada para a seleção feminina dos EUA, recém-campeã da Copa do Mundo. “Não era uma vontade antiga, eu não sabia nada sobre a NWSL na época.”
Mas a empresária gostou da ideia de apoiar atletas mulheres e acreditava que, se a liga ajudasse a reduzir a lacuna em relação aos esportes masculinos, “o futuro seria incrível, não só para as jogadoras, mas, mais importante ainda, para muitas meninas”.

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O Washington Spirit, formado em torno da estrela do futebol feminino Trinity Rodman, conquistou o Campeonato da NWSL em 2021
Kang assumiu o controle do Spirit em 2022. O valor pago, US$ 35 milhões (R$ 193 milhões), chocou o mercado – até então, as avaliações de times da NWSL mal passavam de US$ 5 milhões (R$ 28 milhões). Apesar do sucesso da seleção feminina dos EUA, o futebol profissional ainda carregava um histórico instável. A Women’s United Soccer Association e a Women’s Professional Soccer duraram apenas três anos cada.
Fundada em 2013, a NWSL mostrava mais potencial. Foi o suficiente para Kang aumentar sua participação no Spirit para cerca de 80%, mesmo com a liga ainda operando no vermelho. “Eu vejo o valor, e se não começar a valorizá-lo, quem mais vai fazer isso por nós?”, diz. “Se eu pagasse US$ 5 milhões ou US$ 35 milhões, isso não faria tanta diferença.”
Mudanças no cenário esportivo
Sob a gestão de Kang, a receita anual do clube triplicou – de US$ 5 milhões (R$ 28 milhões) para cerca de US$ 15 milhões (R$ 83 milhões) – e o público médio saltou de menos de 6 mil, em 2022, para quase 14 mil por jogo em 2024.
Além do Washington Spirit, Kang expandiu seus investimentos. Em 2023, adquiriu 53% do então Olympique Lyonnais Féminin, oficializando a separação entre os times feminino e masculino do clube.
Ainda naquele ano, comprou o London City Lionesses e criou a Kynisca Sports International, holding com sede em Londres que reúne todos os seus clubes. Agora, ela mira um time na América do Sul.
A estratégia multiclubes, comum no futebol masculino, ainda é nova na modalidade feminina. Mas Kang aposta nos ganhos de escala: centralizar a formação de atletas e técnicos, reduzir custos operacionais e atrair grandes patrocinadores internacionais. Ela também trabalha para desenvolver centros de treinamento para todos os três clubes e implementar boas práticas de infraestrutura.
Seu entusiasmo agora começa a ser compartilhado. Em 2023, a NWSL fechou acordos de direitos de transmissão com a CBS, ESPN, Ion e Amazon Prime Video, no valor de US$ 240 milhões (R$ 1,3 bilhão) por quatro anos – cerca de 60 vezes mais do que os contratos anteriores. Também conquistou patrocinadores de peso, como AT&T e Google.
No centro dessa transformação, Kang ainda se surpreende com o próprio impacto. “O fato de eu estar falando sobre a palavra ‘legado’ é surreal.” Ainda assim, está aproveitando o momento – e acompanhando de perto a maioria dos jogos do Spirit.
FonteCâmara dos Deputados