Argentina tem probabilidade de 98% de entrar em recessão nos próximos meses

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Protesto de aposentados na Argentina contra o fascismo, contra Milei
Protesto de aposentados na Argentina contra o fascismo (foto de Sebastián Hipperdinger, Europa Press)

A possibilidade de a economia argentina entrar em recessão tornou-se quase uma certeza estatística. De acordo com o último relatório do Centro de Pesquisas Financeiras da Universidade Torcuato Di Tella (UTDT), divulgado pelo jornal Página12, a probabilidade de o país entrar em recessão nos próximos meses subiu para 98%, o nível mais alto desde o início da pandemia em 2020.

Outro dado divulgado nesta sexta-feira, antevéspera das eleições legislativas deste domingo, é que um em cada cinco trabalhadores na Argentina é pobre, revelou um relatório da Fundação Mediterrâneo. A crise econômica, social e política ameaça o difícil objetivo do presidente Javier Millei de obter bom resultado nas urnas.

As eleições legislativas de meio de mandato são um teste de confiança pública na administração do presidente argentino, afirmou o acadêmico Marcelo Rodriguez, secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista Argentino (PCC), em entrevista recente à agência de notícias Xinhua.

“Para além de seus discursos, a realidade nos mostra um forte aumento do desemprego e da precariedade; uma inflação que permanece alta em todo o mundo”, disse o sociólogo e professor universitário, observando que a falta de financiamento para saúde e educação “gerou muitos problemas para a população”.

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O mandato de quatro anos de Milei começou em 10 de dezembro de 2023. As eleições legislativas neste domingo renovarão 127 das 257 cadeiras na Câmara dos Deputados e 24 das 72 no Senado, a partir de dezembro.

“Nestes dois anos de governo, o governo priorizou a especulação e a fuga de capitais, mantendo a taxa de câmbio do dólar em níveis favoráveis a esses negócios”, observou Rodríguez. “Esta é a situação real em que chegamos a estas eleições de meio de mandato para deputados e senadores: elas são marcadas por uma profunda crise econômica, social e política”, resumiu o especialista.

O analista mencionou que, na tentativa de superar a crise no contexto eleitoral, “o governo solicitou assistência ao Tesouro dos EUA, o que só aumentará os níveis de dívida do país, a níveis que já a tornam impagável”.

No dia 20 deste mês, o Banco Central da Argentina assinou um acordo de estabilização cambial (swap) com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por US$ 20 bilhões. A autoridade monetária indicou que o objetivo do acordo é “contribuir para a estabilidade macroeconômica da Argentina, com ênfase especial na preservação da estabilidade de preços e na promoção do crescimento econômico sustentável”.

Rodríguez considerou que o que está em jogo nas eleições legislativas é “se o governo pode continuar com seu modelo de ajuste, pilhagem e repressão ou se pode começar a construir uma alternativa política”.

Javier Milei na Bolsa de Comércio de Buenos Aires, ArgentinaJavier Milei na Bolsa de Comércio de Buenos Aires, Argentina
Javier Milei (foto de Martín Zabala, Xinhua)

Recessão na Argentina desafia ‘reformas de segunda geração’

Diante do partido governista, La Libertad Avanza (LLA), os principais grupos de oposição são a Força Pátria (Partido Justicialista, Peronismo e Kirchnerismo) e o Provincias Unidas, que reúne governadores provinciais.

Rodríguez considerou que o governo argentino “está colocando em jogo nestas eleições a continuidade de seu projeto político e a continuidade do ajuste econômico da população, por meio das chamadas ‘reformas de segunda geração’”.

“Uma derrota significativa do governo seria fundamental para frear o ajuste em curso”, considerou o entrevistado. “Se isso acontecer, o governo, independentemente do resultado, permanecerá em minoria no Parlamento e precisará forjar alianças para sustentar seu projeto, o que, sem dúvida, o deixará bastante fragilizado para a segunda parte de seu mandato”, resumiu o acadêmico.

Congresso da ArgentinaCongresso da Argentina
Congresso da Argentina (foto de Martín Zabala, Xinhua)

Resultados das urnas apontarão caminho para eleições de 2027

Analistas locais estimam que o governo de Milei mantém um programa de ajuste fiscal e monetário que estabilizou parcialmente os preços e evitou o risco de hiperinflação, mas não conseguiu restaurar a atividade ou a renda da população de forma equilibrada, nem superou problemas estruturais que impedem a articulação do crescimento sustentado com o desenvolvimento.

Em relação à oposição, o especialista afirmou que ela está “muito dividida” e enfrenta debates internos, mas um resultado eleitoral positivo “poderia ser útil para moldar algumas posições de liderança visando as eleições presidenciais de 2027”.

“O que está em jogo é qual setor sairá mais forte dessas eleições (legislativas de meio de mandato) para tentar liderar a oposição”, disse o membro do Partido Comunista da Argentina.

“A forma como os blocos de deputados e senadores serão formados será muito importante nesse sentido”, enfatizou o especialista. “Os resultados alcançados pelos governadores em cada uma de suas províncias também serão importantes para moldar o cenário da oposição entre agora e 2027.”

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Fonte Monitor Mercantil

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