Serviços de ‘mordomo’ viram atrativos em edifícios de luxo; veja o que é oferecido

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Os edifícios residenciais de luxo estão indo além da arquitetura diferenciada e da localização privilegiada para conquistar o consumidor de alta renda. Agora, oferecem acesso a serviços normalmente vistos em mansões ou hotéis de alto padrão, como concierge, arrumação de camas e limpeza de apartamentos. Empresas como Mitre, com a grife Daslu, SKR e Stan oferecem as comodidades, que são vistas agora como fatores decisivos para a aquisição de apartamentos milionários em São Paulo.

A tendência se alinha a fatores como falta de tempo para organizar as demandas da casa e do dia a dia e a rotina de viagens dos empresários, que são os principais compradores de imóveis de luxo na capital paulista. Além disso, investidores que compram imóveis para locação de curta, média ou longa duração também têm buscado apartamentos que tenham iniciativas de hospitalidade.

Na visão da arquiteta, urbanista e professora do hub de luxo da ESPM, Cintia Lie Matuzawa, a oferta de serviços nos condomínios vem se tornando um diferencial e ajuda a vender os apartamentos milionários. “Nesses empreendimentos, você consegue ter um serviço que vai fazer a compra de supermercado, levar o carro para lavar, agendar, por exemplo, um restaurante. São pessoas muito ocupadas, que viajam muito e mal têm tempo de desfazer a mala”, afirma Cintia.

A professora enfatiza que o rigor na prestação de serviços de luxo é uma condição fundamental, pois o mercado de alto padrão, embora pague pelos serviços, é extremamente exigente. “O mercado de luxo paga, mas exige. Então, a coisa tem de ser perfeita”, diz.

No empreendimento Daslu Residences, localizado nos Jardins, o primeiro da Mitre com a marca de luxo Daslu (comprada em leilão em 2022 por R$ 10 milhões) os moradores terão concierge e serviços de governança e arrumação dos apartamentos. Segundo Marina Cirelli, diretora executiva de negócios da marca Daslu, o conceito nasceu da interseção entre duas tendências principais: a falta de tempo das pessoas e a valorização do lar após a pandemia de covid-19. O empreendimento tem Valor Geral de Vendas (VGV) aproximado de R$ 600 milhões.

“O tempo hoje talvez seja um dos maiores luxos, e, no pós-pandemia, as pessoas passaram a valorizar muito mais as suas residências. Quando você não tem tempo absolutamente para nada, mas ao mesmo tempo valoriza e quer cada vez mais estar na sua casa, você precisa automaticamente de pessoas que resolvam as coisas para você”, diz Marina.

Além dos serviços inclusos, o condomínio terá outros que podem ser solicitados sob demanda, o que é um atrativo para quem não está constantemente em São Paulo — parte importante dos consumidores nesse perfil de imóvel.

“O Daslu Residences São Paulo nasce com essa premissa: tirar a fricção do dia a dia operacional do morar e que a gente deixe o que é legal da convivência, de aproveitar o tempo, para que a pessoa consiga vivenciar as experiências de uma outra forma. Então, mesmo a massagem ou a drenagem, às vezes, também é funcional, quase que precisa dar um ‘check’, porque são coisas importantes para a saúde”, afirma Marina.

Do ponto de vista de negócios, a marca da Daslu estar associada ao condomínio gera uma possibilidade de ter ganhos ou prejuízos à sua reputação, a depender da experiência dos proprietários ao longo do tempo. Por isso, a Daslu pretende gerenciar a experiência como um todo, mesmo após a entrega do prédio.

A manutenção do alto padrão de serviço é crucial para proteger a reputação da marca, que está ligada ao empreendimento. Para isso, segundo Marina, a empresa fará treinamentos constantes de funcionários do condomínio.

O Hotel Emiliano segue uma tendência parecida. A empresa tem vendido para investidores quartos dos seus hotéis da linha v3rso, voltadas a um público mais jovem e conectado. Nessas unidades, quem está hospedado tem acesso aos serviços de hotelaria da rede, que podem ser acionados ou contratados por meio de um aplicativo.

Segundo Gustavo Filgueiras, fundador do v3rso e CEO do Hotel Emiliano, a estratégia adotada no v3rso segue a tendência internacional das residências assinadas por grandes marcas. Esse tipo de moradia de luxo leva aos moradores facilidades para a rotina, com conveniências e personalização para os proprietários. Recentemente, a empresa inaugurou uma unidade do v3rso nos Jardins, bairro nobre de São Paulo.

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O executivo diz que os serviços não implicam custos de condomínio acima da média da categoria. “Um dos grandes diferenciais do v3rso é justamente a eficiência do modelo. Ao integrar operação hoteleira e residencial, conseguimos otimizar recursos e compartilhar custos, o que torna a gestão mais inteligente e equilibrada”, afirma.

A incorporadora SKR Arquitetura Viva, parceira de negócios da Cyrela, também detectou a demanda do consumidor de luxo por serviços de hospitalidade. A empresa incorporou em seus empreendimentos uma plataforma de hospitalidade, chamada Skinn, que busca estender a relação da incorporadora com o cliente para além da entrega das chaves. O serviço abrange desde a implementação e decoração das unidades até a manutenção cotidiana da vida nos edifícios.

Entre as ofertas estão os pacotes de interiores — que incluem mobiliário, eletrodomésticos e enxoval — com possibilidade de parcelamento durante a construção. A incorporadora também facilita o processo de mudança, oferecendo uma interface de orientação e adaptação ao novo lar, seguindo o conceito internacional chamado move-in.

No campo tecnológico, a empresa utiliza um aplicativo para celular, que centraliza a comunicação e os serviços do condomínio. Por meio dele, moradores recebem notificações sobre entregas e visitantes, fazem reservas de áreas comuns e acessam parcerias com fornecedores externos.

Além disso, a SKR atua como curadora de serviços de apoio e manutenção, com parcerias para limpeza, arrumação e lavanderia, além de um modelo de gestão estendida voltado a investidores que desejam manter suas unidades alugadas ou sob administração profissional. Essa governança é reforçada por treinamentos para o pessoal dos prédios, que passam a atuar como gestores.

Silvio Kozuchowicz, fundador e CEO da SKR, conta que a empresa tem olhado para seus edifícios não apenas como construções, mas como comunidades — e a oferta de serviços faz parte dessa visão. “Queremos completar um ciclo virtuoso dentro da própria SKR, completar o ciclo que vai além da entrega do imóvel, acompanhar o cliente nas jornadas posteriores. Isso é importante porque cada vez mais os prédios têm uma identidade e um propósito, uma vocação”, diz Kozuchowicz.

Na Stan, o empreendimento chamado Praça Henrique Monteiro, localizado em Pinheiros, mistura o conceito de prédio residencial com hotelaria. Lá, os moradores têm acesso a concierge 24 horas no lobby central, recebimento e entrega de encomendas e refeições na porta do apartamento, serviços de pequenas manutenções (como trocar lâmpadas ou auxiliar na instalação de filtros/bebedouros), reservas da sala de massagem e sauna e também a serviços de arrumação e limpeza dos imóveis. A taxa de condomínio gira em torno de R$ 5 mil, dentro do esperado pela incorporadora.

Como o Praça Henrique Monteiro tem um Hotel Pulso integrado à torre residencial — em bloco separado —, os serviços de governança e limpeza são realizados pela equipe do hotel e pagos à parte. Os moradores do edifício também têm preferência na reserva do hotel e do restaurante Charlô, que faz parte do empreendimento. Os proprietários também têm a possibilidade de contratar um menu especial diretamente com o restaurante para que seja realizado um jantar em casa.

A diretora de marketing da Stan Desenvolvimento Imobiliário, Sandra Germanos, conta que 10% dos moradores do edifício moram, oficialmente, em outras cidades, usando o imóvel como base na capital paulista. “Isso torna ainda mais importante esse tipo de serviço, como arrumação semanal, fazer uma reserva específica ou poder usar o serviço de quarto do hotel. E isso já está em prática, não é uma promessa”, afirma Sandra.

Cintia, da ESPM, lembra que o consumidor de alta renda frequentemente procura formas de se diferenciar, e os apartamentos com serviços de hospitalidade cumprem esse papel, embora outros consumidores possam morar em apartamentos, poucos terão acesso aos serviços oferecidos nos edifícios de luxo. Entre outras iniciativas semelhantes, cita morar em prédios assinados por grifes e fazer parte de clubes de elite, onde os membros são aprovados pelas histórias individuais e das famílias. “Como muita coisa ficou acessível para muita gente, essa é a forma do pessoal que tem dinheiro se diferenciar.”



Fonte ONU

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