
Divulgação
Acessibilidade
Quando assumiu a liderança dos studios da Smart Fit, Ana Carolina Corona voltava do México, onde havia inaugurado mais de 100 unidades da rede. Era a primeira experiência de internacionalização do grupo, que hoje tem 1.818 academias em 15 países.
De volta ao Brasil, no fim de 2017, o instinto da executiva era aplicar tudo aquilo que havia aprendido nos últimos quatro anos. “Tive que dar vários passos para trás. Na Smart, o foco é expansão, preço e tecnologia. Nos studios, é individualização, comunidade e, principalmente, o professor.”
De lá para cá, liderou a expansão dessa unidade de negócios. No início, o grupo testou o modelo dentro da academia Bio Ritmo. “Queria colocar uma marca na rua, não criar uma aula.” Hoje, são 242 salas abertas das sete marcas sob o seu guarda-chuva: Race Bootcamp, Vidya, Tonus Gym, Jab House, as recém-adquiridas Kore e Velocity e a caçula Aera – que em breve também abrigará uma nova marca dedicada à recuperação pós-exercício. “O que eu faço? Absolutamente tudo. Do marketing ao financeiro. É como se fosse uma empresa separada.”
No primeiro semestre de 2025, a Smart Fit registrou faturamento de R$ 3,49 bilhões e lucro líquido recorrente de R$ 330 milhões. “Os studios são relevantes como unidade de negócio, mas dentro do grupo ainda somos pequenos.”
Mas o peso vai além do caixa. “Os studios representam a capacidade de inovação do grupo. Quantas empresas grandes conseguem lançar novas marcas e ser vencedor em várias delas?”
É também a consolidação de um ecossistema, que inclui o produto B2B TotalPass e outras frentes do grupo. “Queremos estar presentes em toda a jornada do cliente fitness. É um ciclo que se retroalimenta.”
Trabalho em família
Carolina herdou esse espírito empreendedor do pai, Edgard Corona, fundador e CEO da Smart Fit. “Meu pai empreende no mercado fitness desde 1996. Eu era muito nova na época, mas o fitness faz parte da minha vida desde sempre.”
No início da carreira, trabalhar na Smart Fit não estava nos planos da empresária. “Queria ter a minha história. Meu pai é um homem muito forte, e eu, muito jovem, pensava que poderia ficar na sombra dele. Hoje vejo que isso era bobagem.”
“O fruto não cai longe da árvore. Por mais que você tente se afastar das suas raízes, acaba puxando muitas coisas, e comigo não foi diferente. Eu e meu pai somos muito enérgicos. Muitas das coisas que ele faz ou é, eu repito.”
Carolina Corona
O irmão, Diogo, também atua na empresa, como COO e membro do conselho de administração. “Aprendemos a trabalhar juntos de uma forma muito respeitosa, cada um com seu papel, objetivos e resultados”, diz Carolina. “Não tem muito passar a mão na cabeça. A pior pancada que eu posso tomar com certeza é a do meu pai. E é a que eu mais tomo”, diz, rindo.

Divulgação
Carolina Corona no evento de inauguração do Aera Pilates, em setembro, após o rebranding da marca para se conectar com a geração Z
Nova Aera
Não é de hoje que ela encara o risco de testar, sem medo de errar e dar um passo para trás, se necessário. “Já tive que descontinuar marca, ajustar a rota e reposicionar, como fizemos agora com o pilates.”
Após uma viagem de pesquisa a Nova York, onde viu o boom dos studios da modalidade, decidiu implementar o modelo no Brasil. Nascia o One Pilates, no final do ano passado. “Pensamos que o público seria de 35 a 40 mais, mas acabou sendo nossa marca mais jovem.” De olho na geração Z, em setembro deste ano veio o rebranding, com investimento de cerca de R$ 1,5 milhão. Novos reformers – aparelho como uma cama deslizante, com molas e alças –, uma aula com mais cara de treino e uma identidade mais jovem, nas cores, no nome e no posicionamento. Rebatizado de Aera Pilates, já soma 7 salas abertas e 23 unidades em implantação. “O Pilates trabalha o corpo todo e busca longevidade, que é a palavra da moda.”
O novo formato – e os olhares da empresária, de maneira geral – estão voltados para esse novo público que valoriza saúde e bem-estar como nunca antes. “A geração Z já pensa em como vai envelhecer. Eles bebem menos, tomam mais vitaminas, se alimentam melhor, se exercitam mais, saem menos. Trazemos o pilates surfando essa onda.”
Desafio de gestão
Formada em administração de empresas pela FGV (Fundação Getulio Vargas), Carolina Corona trabalhou no mercado financeiro, na Endeavor e empreendeu antes de liderar a expansão do grupo no México, aos 26 anos. “Estava em transição de carreira e meu pai começava a internacionalização. Ninguém queria ou podia ir para o México naquele momento. Eu falei ‘eu vou’. E na primeira viagem, já fui direto ver minha casa.”
A pequena operação mexicana era uma joint venture com um sócio local. Antes de embarcar, Carolina fez uma imersão na cultura e nos processos da Smart Fit. Quando chegou ao México, não encontrou a companhia que seu pai havia construído. “Era burocrática, hierárquica, e a Smart Fit sempre foi muito horizontal”, lembra. “Cultura é muito difícil de mudar. De duas ou uma: ou você faz uma mescla cultural ou demite e contrata tudo de novo.” Ela escolheu o segundo caminho. “Como experiência de gestão, de cultura, de crescimento pessoal e profissional, o México foi o maior presente que eu já tive na minha vida.”
Não foi o único obstáculo: “Era uma cultura super machista. Uma mulher jovem não tinha vez. Um dos meus maiores desafios foi entender, aceitar e aos poucos ir contornando.”
Mercado trilionário
O balanço dos últimos sete anos, com uma pandemia no meio do caminho, é de crescimento, mas ela quer ir além. “Temos um horizonte de expansão nos próximos anos. A ideia é consolidar as marcas no Brasil e também crescer fora – em países onde a gente já está, como Guatemala, Portugal e Espanha, e avaliar outras geografias.”
A nova fase dos studios também envolve a sua imagem pessoal nas redes sociais. “As pessoas se conectam com as marcas por causa de quem está por trás. Isso reverbera nos negócios.”
“Os studios são um negócio de comunidade. As redes sociais são um negócio de comunidade. A gente está falando basicamente da mesma coisa.”
Carolina Corona
Carolina não se considera influencer e até recusa convites para publicidade, mas aproxima naturalmente as marcas que lidera do seu cotidiano. “Sou uma pessoa extremamente focada em saúde e apaixonada por esse mercado.” No meio da rotina corporativa, até o treino vira trabalho. “Tenho um perfil mais controlador, mas quando eu confio, eu delego. Tenho regras muito claras para ter momentos com as minhas filhas. Desligo o celular e ninguém fala comigo.”
Com a projeção de crescimento do mercado global de wellness, que deve atingir US$ 9 trilhões até 2028, ela acredita que o jogo será cada vez mais competitivo. “O brasileiro é muito exigente quando se trata de academia porque a nossa oferta é muito boa em comparação ao que existe lá fora. Quem faz muito bem vai ficar.”
FonteForbes