80% dos empreendedores brasileiros planejam crescimento até 2027, diz Endeavor

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A liquidez está no centro das estratégias para crescimento dos empreendedores brasileiros. De acordo com o estudo Founder Liquidity in Brazil, lançado pela Endeavor, 79% dos fundadores de empresas de tecnologia esperam realizar algum evento de liquidez nos próximos dois anos.

O estudo será apresentado durante o Annual Gathering do Scale-Up Ventures, evento do fundo de venture capital da Endeavor, e será acompanhado por uma série de vídeos com 10 depoimentos de grandes empreendedores que viveram eventos de liquidez, como Guilherme Benchimol, fundador da XP, Eric Santos, da RD Station, Stelleo Tolda, do Mercado Livre e Sergio Furio, da Creditas.

Para Juan Perroni, da Endeavor, a constatação joga luz sobre um ecossistema que amadureceu depois de anos turbulentos. “Vemos que alguns empreendedores buscam liquidez de curto prazo por meio de transações secundárias, outros, de médio prazo, via M&As e um grupo menor se prepara para IPOs em 5 a 7 anos. Isso mostra que o ecossistema está ativo e se planejando com antecedência, especialmente diante de uma janela de IPOs cada vez mais distante”, afirma.

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O levantamento, que ouviu 118 empreendedores e contou com apoio do Google Cloud, Prosus e Peers Consulting, indica que fusões e aquisições (M&As) e vendas secundárias devem liderar esse movimento, enquanto os IPOs ficam mais distantes, com projeções de retomada apenas a partir de 2028 nos EUA e, no Brasil, depois de 2030.

“O empreendedor brasileiro está mais pragmático. O IPO ainda é um sonho, mas deixou de ser o único símbolo de sucesso. Hoje, secundárias e M&As são vistos como estratégias legítimas para fortalecer o negócio. É uma forma de recarregar as baterias para o longo prazo”, afirma Vinicius Furlan, da Scale Up Ventures.

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Para o fundador da XP, Guilherme Benchimol, que participou do estudo, a abertura de capital precisa ser tratada como “plano Z”. “Abrir capital tem muitas coisas boas e outras nem tanto. Você acessa capital, ganha visibilidade, passa a ter uma moeda líquida e melhora sua governança. Mas, ao mesmo tempo, sua empresa deixa de voar abaixo do radar. Suas informações se tornam públicas, os concorrentes passam a conhecer mais sobre o negócio e tudo o que você faz é muito mais escrutinado. O IPO só faz sentido se a companhia tiver tamanho, governança, clareza e eficácia no uso do capital. Caso contrário, é melhor buscar investidores privados”, afirma.

Ainda para Benchimol, vendas secundárias e M&As só fazem sentido quando fortalecem a empresa. “Eu sempre quis construir algo built to last (feito para durar). Liquidez para mim vinha de dividendos, não da venda de ações. Mas entendo a importância de dar ao fundador acesso a algum capital para uma vida mais equilibrada. O problema é quando a liquidez vira objetivo final. Quem se mantém comprometido após uma rodada ou M&A consegue aproveitar o poder dos juros compostos e construir empresas extraordinárias a longo prazo.”

Sem tabu

O levantamento mostra que a maioria das aquisições ocorre até a Série B, quando os valuations ainda são atrativos. A partir da Série C, a alta expectativa de preço reduz o número de compradores.

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Apesar disso, 32,2% dos fundadores ainda enxergam o IPO como caminho mais alinhado aos seus valores pessoais, mesmo reconhecendo os altos custos operacionais e culturais dessa decisão. O caso da VTEX, que se preparou durante cinco anos antes de abrir capital em Nova York, é citado como exemplo de estratégia de longo prazo bem-sucedida.

Perroni, da Endeavor, lembra que operações secundárias podem ir além de um alívio financeiro. “A secundária pode ser estratégica para limpar o cap table, dar saída a sócios antigos ou até preparar a empresa para um IPO. Temos casos de fundadores que usaram esse mecanismo anos antes da abertura de capital para alinhar melhor os investidores.”

O estudo mostra ainda como os eventos de liquidez alimentam o ecossistema. Após uma saída total via M&A, 51,9% dos fundadores voltam a empreender e 48,1% tornam-se investidores. Em estágios mais avançados, cresce também a prática de filantropia e giveback: na Série D, 71,4% dos empreendedores destinaram parte do capital a doações, contra apenas 26% nos estágios iniciais.

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“Construir e perpetuar um negócio é um desafio descomunal. Antes de pensar em abrir novos negócios ou filantropia, é preciso estar 100% focado no seu negócio e fazer ele ficar o mais resiliente e diversificado possível. Tudo tem sua hora. O mercado é cíclico e incontrolável. O que o empreendedor pode controlar é a consistência e a qualidade da sua companhia”, alerta Benchimol.

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O que vem pela frente

O estudo também destaca o chamado “efeito multiplicador da liquidez”, quando um evento de saída pode gerar uma onda de novos negócios criados por ex-funcionários, como foi o caso da 99, por exemplo.

“Isso libera talentos para empreender novamente com mais tranquilidade. Mesmo pequenos eventos de liquidez para o time já têm impacto, porque permitem que pessoas se arrisquem em novas ideias sem a pressão imediata de pagar as contas”, diz Perroni.

De acordo com a Endeavor, os grandes IPOs da década de 2030 estão sendo preparados agora — e a pesquisa mostra ainda que a abertura de capital continua sendo uma ambição, mas apenas para empresas com perfil específico.

“O empreendedor que busca IPO precisa querer continuar na companhia por muitos anos depois da listagem. É um processo que exige pelo menos uma década de preparo, disciplina e governança”, diz Furlan.

Perroni complementa: “os melhores exits da próxima década estão sendo preparados agora. Casos como Vtex mostram que a disciplina começa anos antes. A lição é clara: IPO deve ser visto como uma opção, não como meta com data marcada”.



FonteAgência Brasil

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