Maquiagem de Milei? População argentina não confia nos índices de inflação

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Mulher com carrinho de compras observa geladeira de carnes em supermercado na Argentina
Carnes em mercado na Argentina (foto de Martín Zabala, Xinhua)

Quase sete em cada dez argentinos (67,4%, para ser exato) acreditam que os índices oficiais de inflação não refletem adequadamente a variação real do seu custo de vida. O dado consta de pesquisa nacional realizada pela consultoria Zentrix. Menos de 1/3 da população da Argentina (29,9%) confia nas medições da agência de estatísticas Indec, equivalente ao nosso IBGE. A percepção sobre os índices de inflação é fortemente influenciada pela identidade política. Os dados foram publicados pelo jornal Página12.

Há uma grande diferença entre os eleitores do partido governista e os da oposição. Os que se opõem ao governo de Javier Milei indicaram uma desconfiança de 94,4% no Indec. Entre os eleitores do presidente da Argentina, a desconfiança é bem menor, embora ainda considerável: 43,8%; pouco mais da metade (52,2%) apoiam os números apresentados pelo órgão oficial.

A mesma pesquisa revela que 64% dos argentinos consideram a situação econômica do país negativa e mais de 40% avaliam sua situação pessoal como ruim ou péssima.

Nova metodologia ao sabor da agenda eleitoral

Outro fator influencia na sensação de que os números de inflação não refletem a realidade na Argentina: o diretor do Indec, Marco Lavagna, admitiu que há uma nova metodologia de apuração da inflação, mas que não foi implementada por causa das próximas eleições para o Congresso, em outubro.

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Conforme relatado pelo Página12, o funcionário confirmou que o órgão já tem a nova metodologia pronta, que inclui novos itens, mas revelou que ela ainda não foi implementada nem seus resultados foram publicados devido ao calendário eleitoral legislativo.

Milei depende de um bom resultado em outubro para colocar avante novas medidas de cortes nos direitos da população, após uma série de derrotas recentes no Congresso. O presidente da Argentina também sofre com denúncias de corrupção que chegaram até Karina Milei, irmã e chefe de gabinete do mandatário.

Apesar de ter derrubado a inflação – no fim da gestão de Alberto Fernández, antecessor de Milei, o índice chegou a 160,9% em 12 meses – o atual presidente vem colecionando números ainda altos: de junho para julho, a inflação ficou em 1,9%, voltando a acelerar após 1,5% em maio e 1,6% em junho, marcando 36,6% em 12 meses.

Prioridade na Argentina é manter câmbio para segurar inflação

O economista Guillermo Hang, diretor de Macroeconomia do centro de pesquisas Suramericana Visión e ex-diretor do Banco Central da Argentina (2020–2022), em entrevista à agência de notícias Xinhua, destacou que a prioridade do governo Milei é manter a estabilidade cambial para segurar a inflação.

Em meio a um cenário pré-eleitoral, Hang destacou ações da equipe econômica, como o aumento das taxas de juros e o fortalecimento de uma política monetária contracionista, visando controlar os superávits monetários.

Embora o economista tenha descartado a possibilidade de uma desvalorização cambial nos próximos meses, ele afirmou que a estimativa de inflação do governo de cerca de 22,7% na comparação anual para o final do ano corrente parece difícil de ser alcançada.

“A meta de fechar o ano com uma inflação anual abaixo de 23% parece inatingível. Se fosse alcançada a qualquer custo, teria que gerar uma desaceleração econômica de tal magnitude que geraria uma agitação social significativa”, disse ele.

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Fonte Monitor Mercantil

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