*Por Luiz Costa
A inovação no setor público é, ao mesmo tempo, uma urgência e um desafio. Nesse contexto, as GovTechs, startups voltadas ao desenvolvimento de soluções para governos, têm se consolidado como agentes estratégicos de transformação. No entanto, escalar esse tipo de negócio requer mais do que boas ideias. Exige modelos ágeis de desenvolvimento e estruturas que facilitem contratações. Dois elementos estão ganhando destaque nessa equação, que são a metodologia de buildagem contínua e a CPIN (Plataforma de Compras Públicas para Inovação).
A chamada buildagem contínua é uma adaptação da lógica das metodologias ágeis e do conceito de Lean Startup: construir, testar, aprender e ajustar. Isso significa desenvolver soluções em ciclos curtos, com protótipos testados diretamente com os gestores públicos e com a população atendida. A abordagem reduz o desperdício de tempo e recursos, pois permite que os serviços evoluam a partir de problemas reais, e não de suposições. Para as GovTechs, significa entregar valor mais rápido, enquanto para os governos, representa produtos mais eficazes, moldados sob medida para seus desafios.
No entanto, não basta desenvolver boas soluções que resolvam dores reais, é preciso conseguir vendê-las para a iniciativa pública. Um dos maiores gargalos para as empresas que desenvolvem para o setor público reside na complexidade das compras, marcada por legislação rígida e processos demorados. A plataforma CPIN, criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, surge como resposta a esse desafio.
Seu objetivo é conectar gestores públicos a ideias inovadoras, permitindo que os órgãos governamentais lancem desafios e contratem startups de forma legal, transparente e desburocratizada, conforme as diretrizes da Nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) e do Marco Legal das Startups (Lei Complementar nº 182/2021). Mais do que um marketplace, a CPIN funciona como um instrumento estratégico de contratação pública.
A união da buildagem contínua com a CPIN oferece às GovTechs uma oportunidade única de desenvolver serviços com base em evidências e validações constantes e, ao mesmo tempo, contar com um caminho concreto para escalar seus produtos dentro do setor público. Na prática, a combinação acelera o ciclo de inovação e amplia o impacto. As soluções são desenvolvidas com mais acerto, os governos contratam com mais segurança, e a sociedade é beneficiada com serviços mais eficientes, acessíveis e inteligentes.
O avanço das GovTechs no Brasil tem sido cada vez mais evidente, mas esse movimento não ocorre de forma isolada. A articulação entre startups, governo, investidores, centros de pesquisa e plataformas como a CPIN é fundamental para criar um ambiente onde a inovação pública seja não apenas viável, mas também escalável. A construção contínua e colaborativa entre esses agentes pavimenta o caminho para cidades inteligentes, políticas públicas eficazes e uma gestão mais alinhada às reais necessidades da população.
*Luiz Costa é Gerente de Inovação da Dome Ventures
Fonte Startupi