Alguns especialistas indianos acreditam que as recentes ameaças e tarifas de Trump são medidas de barganha destinadas a garantir um acordo comercial com a Índia favorável aos EUA. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, assumiu uma postura desafiadora contra os alertas tarifários de Trump, incentivando as pessoas a comprar produtos locais. Ele também afirmou que a Índia está posicionada para se tornar a terceira maior economia do mundo e, portanto, deve permanecer vigilante em termos de interesses econômicos.
Para a Índia, a Rússia tem sido historicamente o principal fornecedor de armas, e os dois países mantêm um relacionamento próximo há décadas. Nos últimos anos, o petróleo russo barato ajudou a Índia a estabelecer um negócio lucrativo de exportação de produtos refinados. Além disso, Modi enfrenta pressão interna para não ceder às exigências de Trump, enfatizando as prioridades econômicas da Índia e incentivando os cidadãos a apoiarem os produtos locais, disseram especialistas.
Impulsionada pelo rápido crescimento nos últimos anos, a Índia está a caminho de se tornar a quarta maior economia do mundo em 2025, ultrapassando o Japão, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.
Ameaça para aliados

Um ponto crítico de discórdia são os setores da agricultura e laticínios, onde a Índia há muito impõe tarifas elevadas para proteger seu setor agrícola, que representa cerca de metade da população do país. Enquanto isso, a promessa anterior de Trump de encerrar rapidamente o conflito Rússia-Ucrânia chegou a um impasse. Recentemente, o governo Trump vem tentando forçar Moscou a se comprometer, restringindo as exportações de petróleo e gás russos.
Michael Kugelman, especialista em sul da Ásia do Wilson Center, sediado nos EUA, disse que Trump “também quer que a Índia compre (ainda) mais (e mais caro) petróleo estadunidense”. Especialistas disseram que o recente discurso anti-Índia do governo Trump não foi surpreendente, visto que o país tratou aliados dos EUA, como Japão e Canadá, com hostilidade para defender seus próprios interesses. Alguns apontaram que os EUA, ao aumentar a pressão sobre a Índia, também estavam intimidando outros parceiros comerciais que ainda não haviam firmado acordos com os EUA.
Tal qual no Brasil
Segundo a Agência Xinhua, o cenário era diferente em fevereiro, quando Modi estava entre os primeiros líderes mundiais a visitar a Casa Branca após o retorno de Trump ao poder. A camaradagem não durou muito. Desde então, a relação entre a Índia e os EUA tem estado em uma ladeira escorregadia, enfrentando um dos seus desafios mais significativos em décadas, segundo alguns especialistas.
Roinder Sachdev, presidente do think tank e centro de pesquisa Imagindia Institute, com sede em Nova Déli, disse que, nos últimos seis meses, a mentalidade da Índia em relação aos EUA está mudando, com aversão e preocupações mais intensas quanto à confiabilidade dos EUA e do governo Trump.
Paquistão
A amizade entre os EUA e o Paquistão também causou surpresa na Índia. De acordo com uma reportagem do jornal The Guardian, os dois países assinaram recentemente acordos sobre criptomoedas, mineração e petróleo. Trump recebeu o chefe do exército paquistanês, marechal de campo Asim Munir, para um almoço na Casa Branca.
Kugelman afirmou que as relações dos EUA com o Paquistão experimentaram um “ressurgimento inesperado”, acrescentando que a mudança repentina sinalizou um sério desafio para Nova Déli, visto que Washington e a Índia vivenciaram uma parceria estratégica cada vez mais aprofundada nas últimas duas décadas.
“Em meio ao agravamento do mal-estar entre EUA e Índia, vale lembrar que não há embaixador estadunidense em Nova Déli e nenhum secretário de Estado adjunto confirmado para o Sul da Ásia em Washington, D.C.”, disse Kugelman em uma publicação nas redes sociais.
O cientista político indiano Pratap Bhanu Mehta disse que as suspeitas em relação aos EUA em Nova Déli agora se assemelham às de 1971, um dos pontos mais baixos da relação Índia-EUA devido a um grande conflito militar entre a Índia e o Paquistão.

Fonte Monitor Mercantil