Para a Uber, robotáxi é vantajoso; mas também uma ameaça | Empresas

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Poucas empresas como a Uber Technologies conseguiram se tornar sinônimo do negócio em que atuam: no caso, o transporte por aplicativo. A companhia americana tem mais de 170 milhões de usuários ativos e acumula 3 bilhões de viagens no mundo. Mas como costuma ocorrer no mercado de tecnologia, frequentemente o maior rival ainda está por vir. No caso da Uber, pode ser o robotáxi, que utiliza veículos totalmente autônomos, que dispensam motorista. Essas plataformas ainda estão em fase de teste ou têm atuação restrita em cidades americanas ou de países europeus e asiáticos, como China e Japão. Mas pesos-pesados como Google, Amazon e Tesla estão se lançando com avidez ao negócio. Então, estaria a Uber sob ameaça?

“Se não conseguirmos participar corretamente do desenvolvimento do mercado de robotáxi, é claro que será um perigo”, diz Dara Khosrowshahi, executivo-chefe (CEO) da Uber, em entrevista exclusiva ao Valor, em São Paulo. “Parte de ser uma empresa de tecnologia é avançar rapidamente, inovar e preparar-se para o futuro. Essa é uma oportunidade única em uma geração. Mas precisamos acertar na estratégia – as plataformas mudam o tempo todo e a inteligência artificial está transformando a maneira como softwares são criados e impactam o negócio e a vida das pessoas. Precisamos tratar do assunto tanto como oportunidade quanto como ameaça.”

A Uber chegou a criar sua própria unidade de direção autônoma, a ATG (Uber Advanced Technologies Group), mas no fim de 2020 transferiu o negócio para a Aurora, uma startup do Vale do Silício, na Califórnia, na qual também investiu US$ 400 milhões. Com o movimento, tornou-se uma das maiores acionistas da empresa, originalmente voltada ao desenvolvimento de caminhões autônomos.

“Da mesma maneira como não fabricamos carros e motos usados pelos nossos parceiros [motoristas e mototaxistas], também não planejamos fabricar robotáxis. Em vez disso, vamos estabelecer parcerias. Queremos que nossos usuários tenham acesso ao serviço quando e se quiserem”, diz Khosrowshahi.

Até agora, a Uber fechou 18 acordos de cooperação com empresas de táxis-robôs. Em sua mais recente ofensiva, dias atrás, anunciou um investimento de US$ 300 milhões na Lucid Motors, de carros elétricos, e uma parceria com a Nuro, de tecnologia de direção autônoma, para colocar nas ruas 20 mil veículos sem motorista nos próximos seis anos, a começar dos EUA em 2026. Os veículos serão usados exclusivamente pela plataforma da Uber.

A Uber investiu na Lucid e fez parceria com a Nuro para colocar nas ruas 20 mil carros autônomos a partir de 2026

Há 20 dias, o jornal “The New York Times” publicou uma reportagem dizendo que a Uber estaria em negociações para adquirir a subsidiária americana da Pony.ai, com a qual já tem parceria. Fundada no Vale do Silício, a Pony atua nos EUA e negocia ações em bolsa, embora concentre sua atuação na China. “É uma empresa excelente, mas não quero comentar rumores”, diz Khosrowshahi. “Acho que a Pony continuará sendo uma grande parceira no futuro.”

O mercado de robotáxis acena com possibilidades de rápido crescimento. A Fortune Business Insights, de consultoria e pesquisa de mercado, estima que o negócio movimentará US$ 118,6 bilhões globalmente até 2031, com aumento de 80,8% ao ano. Embora não haja dados específicos sobre 2025, a projeção sugere algo em torno de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões neste ano, tomando como base a taxa de crescimento anual prevista a partir de 2022. A AKR, uma gestora de investimento, estima que até 2030 cerca de 50 milhões de robotáxis poderão estar em circulação no mundo.

As frotas automatizadas podem reduzir sensivelmente o custo de operação das plataformas. É difícil calcular a porcentagem média que os motoristas retêm do valor pago por viagem, porque isso depende de muitas variáveis. Seria de supor algo entre 75% e 85% da tarifa, com base no que as plataformas eventualmente comentam, embora muitos motoristas digam que essa fatia é menor, podendo não chegar a 50% em alguns casos. Com os robotáxis, as plataformas reteriam 100% do valor e evitariam questões relativas a direitos trabalhistas e pagamento de benefícios. Além disso, os carros ficariam disponíveis 24 horas por dia, sem intervalos, e a expansão do serviço não dependeria da adesão dos motoristas.

Atingir o nirvana dos táxis-robôs, no entanto, depende de superar uma série de obstáculos. Entre os principais estão a regulamentação do serviço, a adaptação de infraestrutura viária e mobiliário urbano, o atendimento dos requisitos de segurança e, claro, os custos para conceber e produzir os veículos.

Existem seis níveis de automação de automóveis e chegar aos modelos que dispensam o motorista completamente é caro. Para garantir a segurança do passageiro é preciso investir em componentes como sensores para detectar objetos, sistemas de mapeamento e localização, câmeras e controles eletrônicos, além de softwares e gastos com computação em nuvem. A promessa de um futuro econômico depende de um presente dispendioso.

Projeções indicam que o negócio de robotáxi deve movimentar US$ 118,6 bilhões até 2031 no mundo

Esse cenário está levando a uma consolidação antecipada. Em dezembro, a General Motors encerrou as operações da Cruise, sua subsidiária de táxis autônomos, depois de investir US$ 8 bilhões no empreendimento. Um atropelamento provocado por um carro da Cruise contribuiu para seu fim. Há dois anos, a Ford desistiu de sua participação na Argo.AI, outra empresa de robotáxi, após investir aproximadamente US$ 10 bilhões na companhia.

Com sua rede de parcerias, enorme base de usuários e serviço estabelecido, a Uber tem a chance de buscar um lugar de liderança sem se aventurar nas apostas arriscadas desta fase inicial dos táxis-robôs. Além disso, como não se sabe qual será o padrão tecnológico dominante, distribui o risco enquanto o jogo ainda não está definido.

A dúvida é se à medida que o robotáxi se disseminar e ganhar a confiança dos usuários, a Uber não pode ser eclipsada por suas aliadas, caso elas decidam avançar sozinhas ou restringir a cooperação.

A Waymo – controlada pela Alphabet, mesma holding do Google – vem registrando 250 mil viagens autônomas por semana em cidades como Phoenix, San Francisco e Los Angeles. É parceira da Uber, mas não depende dela. Também oferece serviço próprio. Já a Tesla, de Elon Musk, começou a testar seu serviço em uma pequena área de Austin, no Texas, a uma tarifa fixa de US$ 4,20. Sem qualquer aliança.

Khosrowshahi demonstra confiança em longo prazo. “A tecnologia está sendo desenvolvida, mas ainda não atingiu a maturidade. Hoje, o custo de um serviço de táxi-robô seguro é bem maior que o custo de um serviço humano seguro. Com o avanço da tecnologia, esse custo irá baixar”, afirma o CEO. “Não espero ganhar dinheiro com robotáxis nos próximos cinco anos, mas é um futuro em que apostamos e queremos estar na linha de frente.”



Fonte Agência Brasil

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