Fundada em 1995 como a primeira incubadora do Espírito Santo, a TecVitória atravessa uma fase de reestruturação com foco em novas fronteiras para a inovação. Prestes a iniciar a reforma completa de sua sede física, prevista para 2025, a organização quer consolidar sua atuação como plataforma nacional de apoio a startups em estágios iniciais, com ampliação de programas híbridos e online, parcerias fora do estado e projetos voltados a territórios socialmente vulneráveis.
A incubadora já apoiou mais de mil projetos em quase três décadas, com mais de 80 empresas graduadas, R$ 30 milhões captados por negócios incubados e cerca de 4 mil profissionais inseridos no ecossistema. A nova fase da TecVitória mira agora a integração de ambientes locais com redes mais amplas, transformando-se em um ponto de articulação entre governo, academia, mercado e periferias urbanas.
Infraestrutura e articulação regional
A nova sede da TecVitória terá espaços mais integrados, áreas para coworking, auditório e salas modulares que poderão abrigar empreendedores locais e visitantes de fora do estado. O objetivo é transformar o espaço físico em ponto de encontro para diferentes agentes da inovação, promovendo troca de experiências, cocriação e atividades compartilhadas entre projetos de diversas origens.
A estrutura reformada pretende também facilitar a internacionalização de conexões, com abertura para startups estrangeiras interessadas em acessar o mercado brasileiro via Espírito Santo. A incubadora já atua em articulação com outras iniciativas estaduais e tem colaborado com hubs e incubadoras emergentes no Distrito Federal, Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro, além de projetos pontuais em comunidades urbanas capixabas.
Trilhas, suporte e ferramentas
A trilha de incubação da TecVitória segue um modelo baseado em cinco etapas: validação, prototipação, desenvolvimento, lançamento e gestão. Cada fase tem objetivos e entregáveis definidos, como construção de MVP, planejamento financeiro, definição de canais digitais, estruturação de equipe e registro de propriedade intelectual.
Para ingressar, os projetos devem apresentar validações iniciais que demonstrem a existência de um problema real e um modelo de negócio plausível. O foco está na aplicabilidade da solução, no compromisso dos fundadores e no alinhamento com o perfil de negócios inovadores com potencial de tração.
O apoio oferecido inclui mentorias, workshops, consultorias técnicas e comportamentais, participação em eventos, acesso a espaços físicos e integração com outros ambientes do ecossistema de inovação. Parte desse acompanhamento é feito por meio da Plataforma StarTec, que organiza conteúdos, ferramentas e materiais de capacitação de forma acessível e direta, com linguagem adaptada ao público empreendedor.
Metodologia e resultados
A abordagem da incubadora é centrada no perfil do empreendedor e nos contextos locais onde os negócios nascem. Esse modelo tem permitido acompanhar iniciativas em diferentes estágios, como as startups PicPay, Dersalis, Persora, Motora e Amigo Digital, todas com histórico de passagem pela TecVitória. Segundo Torobay, o diferencial da incubadora é sua capacidade de trabalhar com perfis diversos, desde jovens de periferia até fundadores com formação técnica avançada.
Em 2024, quatro startups incubadas faturaram juntas mais de R$ 2,4 milhões, resultado das capacitações, mentorias e conexões promovidas pela incubadora. A avaliação interna indica que 85,7% dos participantes recomendariam os programas oferecidos e 76% se dizem satisfeitos com os serviços recebidos.
Prototipação com IA
Uma das novidades recentes é a aplicação de inteligência artificial nos processos de prototipação. A ferramenta tem acelerado a criação de soluções visuais e estruturais por parte de empreendedores sem formação técnica. Segundo o diretor, a IA funciona como uma ponte entre a ideia e a validação prática. “Reduzimos o tempo entre o conceito e o teste com usuário real. Isso tem sido fundamental para validar hipóteses de forma ágil e acessível”, afirmou.
A proposta é usar IA como mecanismo de democratização da inovação, permitindo que pessoas sem domínio de design, engenharia ou programação avancem em suas jornadas empreendedoras.
Educação empreendedora e inclusão
Além da trilha de incubação, a TecVitória mantém a Trilha da Inovação, programa gratuito voltado a projetos em fase de ideação. A edição mais recente, realizada em abril de 2025, contou com 66 inscritos, sendo 30 selecionados a maioria oriunda do Espírito Santo, mas com participação de iniciativas do DF, MA, PE e RJ.
O conteúdo do programa inclui tópicos como modelo de negócios, mapeamento de mercado, oratória, planejamento e pitch final. O objetivo é preparar os projetos para a próxima etapa: a incubação completa. Dez propostas foram selecionadas ao fim da trilha para continuidade dentro da estrutura da TecVitória.
Outro destaque é o projeto Decolagem do Bem, realizado no Território do Bem, região de Vitória com cerca de 40 mil moradores. A ação tem foco em capacitar jovens entre 15 e 29 anos a desenvolver soluções locais. A jornada inclui oficinas, pesquisas comunitárias, apresentações e incubação por um ano. A proposta é conectar inovação e transformação social, a partir da realidade do próprio território.
Desconcentração e descentralização
Para Torobay, a atuação da TecVitória aponta caminhos para romper com a concentração histórica do ecossistema nacional de inovação nos eixos Rio-São Paulo. Ele destaca que outras regiões têm mostrado potencial e que incubadoras regionais podem atuar como catalisadoras dessa descentralização.
“O Brasil tem talentos e soluções nas periferias, nas universidades do interior, nas cidades médias. Nossa função é ativar esse ecossistema invisível, conectando políticas públicas, investidores e iniciativas locais por meio de uma metodologia que já mostrou que funciona”, avalia.
A incubadora capixaba tem sido reconhecida por sua atuação em fóruns como a Anprotec e o Sebrae, com destaque para a forma como adapta práticas de incubação a diferentes públicos e contextos. Para os próximos dois anos, o foco está na finalização da reforma da sede, expansão de parcerias interestaduais e internacionalização de sua metodologia.
A previsão é que a nova estrutura da TecVitória seja inaugurada entre o fim de 2025 e o início de 2026. Até lá, a incubadora seguirá operando com atividades remotas, apoio digital e eventos itinerantes. O próximo encontro presencial será em 11 de julho, no Senac Vitória.
A meta é manter a taxa de formação de empreendedores, aumentar o número de negócios graduados e ampliar a inserção do Espírito Santo na agenda nacional de inovação. Com isso, a TecVitória espera consolidar-se não apenas como incubadora, mas como hub de conexão, formação e transformação.
“Ao longo dessas quase três décadas, mais de mil projetos foram incubados e mais de cinco mil pessoas passaram pela TecVitória, sendo inseridas no ecossistema capixaba de inovação. Esses números refletem o nosso compromisso em democratizar o acesso ao empreendedorismo inovador, traduzindo conceitos complexos em uma linguagem simples e acessível, e tornando o caminho da inovação mais inclusivo e transformador”, conclui Gabriel.
Fonte Startupi