Construir um novo partido político nos Estados Unidos do zero é uma tarefa desafiadora, mesmo para o homem mais rico do mundo.
Mas é isso que Elon Musk, o bilionário por trás da Tesla e da SpaceX, disse que planeja fazer após seu desentendimento com o presidente Donald Trump. Musk anunciou neste fim de semana o nascimento do “Partido América” – dedicado, segundo ele, a derrotar os republicanos que apoiaram o enorme projeto de lei de corte de impostos e gastos de Trump.
Musk descreveu seu novo partido em sua rede social X como centrado em tecnologia, preocupado com o orçamento, pró-energia e centrista, com o objetivo de atrair democratas e republicanos descontentes. Musk criticou o projeto de lei de corte de impostos, que deve adicionar cerca de US$ 3,4 trilhões à dívida dos Estados Unidos.
Romper o domínio do sistema bipartidário nas eleições federais dos EUA exigiria recursos enormes e um compromisso de longo prazo, dizem especialistas políticos. Tentativas semelhantes falharam, ressaltando a dificuldade de se consolidar em um país onde as eleições são organizadas em nível estadual.
“Existem barreiras muito, muito significativas para a criação de um terceiro partido viável”, diz David A. Hopkins, professor de ciência política do Boston College. Ele disse que os desafios incluem a construção da infraestrutura partidária, a organização de voluntários e a qualificação para o pleito.
David Jolly, ex-congressista republicano da Flórida que deixou o partido por causa de Trump, disse que Musk pode fornecer o que há muito tempo é necessário para tal impulso: dinheiro.
“O que faltava ao espaço independente eram recursos”, diz Jolly. “É mais do que apenas registrar um pedido na Comissão Eleitoral Federal. É, na verdade, criar 50 partidos estaduais. Estamos falando de US$ 100 milhões apenas para entrar nesse espaço com intenções realmente sérias.”
Jolly considerou retornar à política como independente, mas concluiu que permanecer no sistema bipartidário seria uma maneira mais eficaz de alcançar eleitores insatisfeitos. Ele agora concorre ao governo da Flórida pelo Partido Democrata.
Em 2016, o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, outro bilionário, chegou a uma conclusão semelhante, rejeitando a ideia de concorrer à presidência como independente, afirmando que tal candidato “não teria chance de vencer”.
Jolly estimou que Musk levaria 10 anos e talvez US$ 1 bilhão para construir um partido nacional viável – e disse que o histórico recente de Musk com seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) sugere que o bilionário pode não permanecer no cargo por muito tempo.
Musk deixou o DOGE após apenas alguns meses no governo Trump, tendo realizado pouco das economias prometidas.
“O que vimos é um Elon Musk que não é disciplinado o suficiente para mudar a política americana”, disse Jolly.
O gabinete de Musk não respondeu a um pedido de comentário. As ações da Tesla fecharam em queda de quase 7% na segunda-feira (7), com Musk reacendendo as preocupações dos investidores sobre seu foco na empresa.
Investimentos de Musk na política
Musk pode ter escolhido um caminho mais tradicional, usando seu comitê de ação política para apoiar os candidatos republicanos à reeleição nas primárias do partido antes das eleições de meio de mandato do próximo ano, que determinarão o controle do Congresso.
Ele foi o maior doador na campanha eleitoral de 2024 nos EUA, com quase US$ 300 milhões em contribuições, principalmente focadas em ajudar Trump a retornar à Casa Branca.
Nem todos os seus esforços políticos deram resultado. Ele investiu milhões de dólares em uma eleição para a Suprema Corte de Wisconsin em abril, apenas para ver seu candidato preferido fracassar.
Seus esforços para convencer os republicanos no Congresso dos EUA a não aprovar o projeto de lei tributária de Trump também fracassaram.
Não está claro quão eficaz ele seria em apoiar independentes em algumas disputas acirradas para a Câmara dos Representantes dos EUA.
Do jeito que está, as cerca de três dúzias de disputas consideradas competitivas por analistas apartidários já estão frequentemente inundadas com dinheiro de partidos políticos e captadores de recursos externos, e os próprios candidatos costumam ser ideologicamente mais moderados – o que tornaria mais difícil para os candidatos de Musk se diferenciarem.
Historicamente, candidatos ao Congresso de fora dos dois partidos têm lutado para superar desvantagens em esforços locais para organizar e mobilizar o eleitorado. Mais frequentemente, os independentes têm servido como sabotadores – desviando votos tanto do democrata quanto do republicano.
Na eleição de 2024 para uma cadeira na Câmara em Ohio, o candidato independente Dennis Kucinich, ex-deputado democrata, conquistou mais de 12% dos votos na eleição geral. O republicano Max Miller venceu por 15 pontos percentuais.
Trump zombou dos esforços de Musk no domingo. “Terceiros partidos nunca funcionaram, ele pode se divertir com isso, mas acho ridículo”, disse o presidente a repórteres.
Para complicar os planos de Musk, muitos eleitores não gostam dele. Qualquer papel que ele desempenhe em uma eleição certamente se tornará parte do debate.
Musk é visto de forma menos favorável do que Trump pelo público americano em geral – apenas 36% dos entrevistados em uma pesquisa Reuters/Ipsos de junho tinham uma visão favorável de Musk, em comparação com 42% que viam Trump de forma favorável, enquanto 59% dos entrevistados têm uma visão desfavorável dele, em comparação com 55% que viam Trump de forma desfavorável.
Mas seu maior problema pode ser o fato de estar tentando desafiar Trump politicamente, enquanto conta com o apoio dos próprios eleitores de Trump. Musk teve seu maior nível de apoio – 78% de favorabilidade – entre as pessoas que votaram em Trump em novembro.
“O próprio Musk não é muito popular e seu apelo tem uma enorme sobreposição com a coalizão republicana existente”, disse Hans Noel, cientista político da Universidade de Georgetown. “Realmente não há um movimento não representado pelo qual ele esteja falando. É improvável que ele eleja muitos candidatos do ‘Partido América.”
Fonte Agência Brasil