está na hora de falar de resultado

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*Por Thiago Oliveira

Falar de inteligência artificial virou regra em qualquer planejamento estratégico. Está na pauta de conselhos, nos discursos de lideranças, nas metas de inovação. Mas há uma diferença importante entre falar de IA e gerar resultado com IA — e essa diferença, na maior parte das empresas, ainda é gigantesca.

O que percebo é que muitas companhias estão presas demais no “como fazer” e pouco atentas ao “por que fazer”. Há um encantamento natural com a tecnologia, especialmente com os avanços recentes da IA generativa. Mas esse encantamento pode virar armadilha. Em vez de agir, muitas empresas ficam presas na experimentação interminável, em pilotos que nunca saem do laboratório, em discussões técnicas que não se conectam com a operação. E tudo isso consome tempo, recursos e expectativa. Porque, no fim das contas, nenhuma empresa foi criada para ser um centro de pesquisa — todas precisam entregar valor, crescer e ser sustentáveis.

Existe um momento, que considero determinante, em que a inteligência artificial deixa de ser uma pauta de inovação e se torna parte da engrenagem do negócio. É quando a empresa para de perguntar “como aplicamos IA aqui?” e começa a questionar “qual problema real podemos resolver agora com ajuda da IA?”. Esse ponto de virada é mais sobre mentalidade do que sobre tecnologia. É sobre deixar de ver a IA como vitrine e começar a encará-la como ferramenta. E isso exige maturidade e humildade para reconhecer que nem toda dor se resolve com IA, e que IA sozinha não resolve dor nenhuma.

Na prática, os melhores projetos com IA que vi até hoje nasceram não de um time técnico animado com o novo modelo da vez, mas de uma dor muito concreta de negócio: reduzir inadimplência, melhorar margem, automatizar uma etapa crítica, destravar crescimento. A tecnologia entra como meio, não como manchete. E talvez esse seja o ponto mais importante: enquanto a IA for tratada como algo separado do core da empresa, ela continuará sendo um experimento caro, desconectado e de curto prazo.

É natural que o mercado tenha passado por essa fase de encantamento. Toda nova tecnologia gera esse efeito. Mas, agora, o tempo da descoberta precisa dar lugar ao tempo da entrega. E isso significa tomar decisões difíceis. Encerrar iniciativas que não geraram impacto. Rever processos. Recalibrar expectativas. E, principalmente, alinhar tecnologia a indicadores de negócio — e não a apresentações de fim de trimestre.

Tenho convicção de que a IA será um pilar estrutural para praticamente todas as empresas nos próximos anos. Não como diferencial isolado, e sim como parte de um modelo operacional mais inteligente, mais eficiente e mais orientado a dados. Só que para chegar lá, é preciso sair da superfície. IA boa não é a que impressiona, é a que resolve. Não é a que está na vitrine, é a que move o ponteiro.

O tempo que uma empresa passa “presa” na IA, sem extrair valor real, está diretamente ligado ao quanto ela hesita em tomar decisões duras. E à sua capacidade de transformar discurso em método. O momento da virada chega quando a liderança entende que tecnologia nenhuma salva um negócio mal dirigido. E que IA, por mais promissora que seja, não substitui estratégia, foco e clareza de propósito.

Enquanto isso não acontecer, a IA continuará sendo pauta de reunião. Já quando acontecer, ela finalmente virará resultado.

*Thiago Oliveira é CEO e fundador da Monest – empresa de recuperação de ativos através da cobrança de débitos por uma agente virtual chamada Mia, conectada por inteligência artificial. Mais de 15 anos de experiência no setor de tecnologia, com uma atuação consolidada no mercado de cobrança há mais de 10 anos. Eleito umas das 50 lideranças de Finanças e Risco pelo CMS Financial Innovation 2023.




Fonte Startupi

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