Hailey Bieber vendeu uma marca por US$ 1 bilhão, mas isso não a torna bilionária

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*Por Rebecca Fischer

A notícia de que a marca de skincare Rhode, fundada por Hailey Bieber, foi adquirida pela e.l.f. Beauty por até US$ 1 bilhão agitou a internet e rapidamente gerou manchetes e especulações: Hailey teria se tornado bilionária? A narrativa é sedutora — afinal, trata-se de uma celebridade jovem, influente e, agora, aparentemente uma das empreendedoras mais bem-sucedidas da indústria da beleza. No entanto, uma análise mais cuidadosa dos termos da negociação revela que o entusiasmo pode estar desconectado da realidade financeira.

O valor divulgado, de até US$ 1 bilhão, é composto por duas partes: US$ 800 milhões pagos em dinheiro e ações, e mais US$ 200 milhões atrelados a metas de performance nos próximos três anos — o chamado earn-out. Ou seja, nem todo o montante é garantido ou líquido no momento da transação. Isso já relativiza a ideia de uma bilionária instantânea: uma parte relevante do valor está condicionada ao desempenho futuro da empresa.

Além disso, Hailey não era a única dona da Rhode. Desde o início, ela contou com parceiros estratégicos e investidores, como o grupo One Luxury, que certamente detêm participações significativas na empresa. Em outras palavras, o valor da aquisição será dividido conforme a participação de cada sócio, o que reduz ainda mais a quantia efetivamente atribuída à fundadora no curto prazo.

É importante entender que, no universo das startups e aquisições, valuation é diferente de liquidez. O valor de mercado atribuído a uma empresa — especialmente em aquisições que incluem parcelas variáveis — não representa necessariamente o montante disponível na conta bancária dos fundadores. Muitos empreendedores lideram negócios avaliados em centenas de milhões, mas ainda não realizaram ganhos financeiros proporcionais.

Outro fator que costuma gerar confusão é o envolvimento contínuo do fundador após a venda. Hailey Bieber permanecerá como Chief Creative Officer e Head of Innovation da Rhode, o que indica que a operação não foi uma “venda e saída”, mas sim uma transição em que sua imagem e influência continuam sendo ativos estratégicos. Isso reforça o entendimento de que o valor pago não é apenas pelo que a empresa já representa, mas também pelo que ela ainda pode se tornar, com Hailey à frente.

O caso Rhode é um ótimo exemplo de como a cobertura superficial de grandes aquisições pode distorcer a compreensão pública sobre empreendedorismo, patrimônio e negócios. O deal é, sim, um marco relevante — especialmente para uma marca tão jovem —, mas também é um lembrete valioso de que o glamour dos valuations bilionários precisa ser lido com cautela. Nem todo unicórnio cria bilionários, e nem toda manchete reflete o que está no contrato.

*Rebecca Fischer é co-fundadora da Divibank.




Fonte Startupi

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