A tese de que a era da diversificação chegou e os recursos migrarão para ativos fora dos Estados Unidos não parece muito factível, mas no curto prazo a procura por proteção contra a desvalorização do dólar e algum deslocamento de capitais têm o potencial de mover os preços.
“Primeiro, as alternativas ao dólar seguem firmes e acima do que indicaria o diferencial de juros”, afirmou Luis Stuhlberger, sócio e executivo-chefe e de investimentos (CEO e CIO) da Verde Asset Management, em evento da gestora nesta quinta-feira. “No curto prazo, as moedas têm uma relação entre si que não é só o diferencial de juros, mas no longo prazo não é isso que importa.”
Historicamente, a cotação do euro e do dólar tem uma correlação forte, mas que foi completamente quebrada desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, afirmou Stuhlberger.
Ele disse que as vulnerabilidades nos Estados Unidos são muito evidentes, pesariam em tese contra o dólar americano – algo almejado pelo governo Trump e que estão no cerne da sua política comercial.
O déficit em conta corrente voltou a se deteriorar, saindo de 2% do PIB durante anos seguidos, para algo próximo de 4%, enquanto o fiscal está em torno de 6%. Mas quando se acrescenta algumas reconciliações e as promessas populistas do presidente americano, como o corte de impostos, chega a 7%. E é possível que, por causa de algumas falsas premissas, o déficit fiscal nos EUA fique mais perto de 8%, “o que é um abuso nem exorbitante do privilégio [do dólar americano], não tenho nem palavras para definir o que é um país como Estados Unidos ter déficit de 8% do PIB”, comentou Stuhlberger.
Nos EUA, os estrangeiros detêm US$ 15 trilhões em papéis de dívida, incluindo soberana e corporativa, e outros US$ 18 trilhões em ações. A riqueza está nas mãos de investidores da Europa, Caribe, Japão e a parcela que mais cresceu vem da Ásia, excluindo-se a China, apontou Stuhlberger.
“A maioria dos países segue comprando Treasuries, não estão vendendo, mas decisões marginais de alocação podem alterar esse cenário”, afirmou.
Os europeus, ao seu ver, não têm mais o benefício de comprar títulos do Tesouro de dez anos dos EUA, não existe mais a vantagem de ter esse tipo de ativo fora da região se precisarem montar alguma estratégia proteção. Se outros grandes investidores como seguradoras fizerem o mesmo haveria mais pressão sobre a moeda americana.
Mesmo com todos os vaivéns, o dólar ainda é caro. O euro está ok, mas não dá para ir para o Japão porque é a taxa de juro real mais negativa que se tem no mundo. “É um péssimo ‘carry’ [carrego] e ninguém gosta de perder dinheiro todo mês com juro inferior à inflação”, disse Stuhlberger.
Como alternativa aparece o ouro, considerado uma reserva de valor, mas que não rende nada, não dá para emprestar e ainda precisa gastar com custódia. E também o bitcoin, que “ninguém tem e tem ódio porque subiu loucamente, você não tem, não sabe para o que vale”.
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Fonte Agência Brasil