FAO: menos de 5% das terras em Gaza são adequadas e acessíveis para o cultivo

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Beth Bechdol, diretora-geral assistente da FAO (Foto: ONU)
Beth Bechdol, diretora-geral assistente da FAO (Foto: ONU)

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alertou que menos de 5% das terras da Faixa de Gaza são adequadas e acessíveis para o cultivo, agravando ainda mais o risco de fome no enclave palestino.

De acordo com a organização, mais de 80% das terras aráveis de Gaza foram danificadas – 12.537 hectares de um total de 15.053 hectares – enquanto 77,8% não estão acessíveis aos agricultores, deixando 688 hectares disponíveis para cultivo no enclave, ou 4,6% do total.

“Não se trata apenas de uma perda de infraestrutura: é um colapso do sistema agroalimentar de Gaza e de seus recursos vitais”, alertou Beth Bechdol, diretora-geral assistente da FAO, acrescentando que a destruição de terras, estufas e poços prejudicou a produção de alimentos.

Ela lamentou que a infraestrutura que “antes fornecia alimentos, renda e estabilidade a centenas de milhares de pessoas agora está em ruínas”. “A reconstrução exigirá um investimento maciço e um compromisso contínuo”, disse.

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Imagens de satélite obtidas pelo Centro de Satélites da ONU também revelam que 71,2% das estufas em Gaza estão danificadas. A área mais atingida é a de Rafah, no sul do enclave, onde aproximadamente 86,5% foram destruídos, ante 57,5% em dezembro de 2024.

No caso dos poços, 82,8% foram danificados em abril, em comparação com 67,7% em dezembro. No início deste ano, a FAO estimou o valor total dos danos e perdas no setor agrícola desde o início da ofensiva israelense em US$ 835 milhões e US$ 1,3 bilhão, respectivamente.

Antes do conflito, a agricultura era responsável por 10% da economia do enclave palestino. Mais de 560 mil pessoas dependiam total ou parcialmente da produção agrícola, do pastoreio ou da pesca para sua subsistência.

A proposta dos EUA e de Israel de controlar a distribuição de suprimentos sob o pretexto de fornecer ajuda humanitária levanta graves preocupações humanitárias, éticas, de segurança e legais, alerta a organização Médicos Sem Fronteiras. Condicionar a provisão de assistência ao deslocamento forçado e ao controle da população é mais uma ferramenta na campanha contínua de limpeza étnica da população palestina. MSF rejeita e condena veementemente qualquer plano que reduza ainda mais a disponibilidade de ajuda e a sujeite aos objetivos da ocupação militar israelense.

Estamos testemunhando, em tempo real, a criação de condições para a aniquilação de vidas palestinas em Gaza, declara a entidade.

A obstrução da ajuda humanitária é uma violação direta da Resolução 2720 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exige a entrega desimpedida de assistência humanitária aos civis.

As alegações de que a ajuda está sendo desviada pelo Hamas permanecem não verificadas e não justificam de forma alguma tais medidas. Como potência ocupante, Israel precisa facilitar a ajuda humanitária imparcial para a população que dela necessita.

“A ONU, os países-membros da União Europeia e todos aqueles que têm influência sobre Israel devem utilizar urgentemente sua força política e econômica para impedir a instrumentalização da ajuda humanitária. É preciso permitir que suprimentos humanitários, alimentos, combustível e medicamentos cheguem à população de Gaza agora”, diz a nota.

Desde a retomada dos ataques de Israel e o bloqueio total da entrada de ajuda em 2 de março, Gaza se tornou um inferno na Terra para os palestinos. A sobrevivência deles está à mercê das autoridades israelenses, que estão negando a toda a população o acesso a alimentos, água, cuidados médicos e abrigo.

“Israel continua com sua campanha de limpeza étnica, destruindo deliberadamente as condições necessárias para a vida.”

Organizações como a World Central Kitchen e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) anunciaram que não têm mais estoques de alimentos disponíveis em Gaza: a maioria das cozinhas comunitárias e padarias fechou.

As equipes médicas dos MSF na Cidade de Gaza observaram um aumento de 32% no número de pacientes que apresentaram desnutrição nas últimas duas semanas. A redução dos estoques de combustível está limitando a capacidade de dessalinizar e distribuir água. As instalações de saúde que ainda funcionam – já criticamente inadequadas em número e capacidade para a população – ainda estão sendo atacadas e sofrem com a rápida diminuição da disponibilidade de medicamentos e outros insumos indispensáveis.

As equipes dos MSF em Gaza não recebem suprimentos há 11 semanas e enfrentam escassez crítica de itens médicos essenciais, como compressas e luvas esterilizadas.

As ordens de evacuação de Israel e as zonas militares proibidas agora cobrem 70% de Gaza. A população foi transferida à força de um lugar para outro, e nenhuma área de Gaza foi poupada dos ataques. A situação é tão desesperadora que equipes dos MSF trataram e deram alta a pacientes para depois vê-los retornar com novos ferimentos.

O plano israelense de instrumentalizar a ajuda é uma resposta cínica à própria crise humanitária que eles criaram. Se quisessem, Israel e seus aliados poderiam suspender o bloqueio hoje e permitir que a ajuda humanitária chegasse a todos os habitantes de Gaza cuja sobrevivência depende dela.

Com informações da Europa Press



Fonte Monitor Mercantil

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