BRASÍLIA – O Banco Master fez um pedido formal ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para viabilizar uma linha de empréstimo que o ajude a rolar suas dívidas, após a cisão e venda de parte de seus ativos para o Banco Regional de Brasília (BRB).
Ao informar a oferta de compra de parte do Banco Master, o BRB havia calculado que deixaria para trás cerca de R$ 23 bilhões – entre os quais ativos como a carteira de precatórios (dívidas judiciais do governo) e ações e dívidas de empresas em recuperação judicial. São ativos considerados de maior risco e fora da atuação do banco estatal controlado pelo governo do Distrito Federal.
Após nova auditoria, feita após o anúncio de compra, em 28 de março, o BRB deverá deixar para trás mais ativos, no que deve rondar R$ 33 bilhões.
Com uma fatia remanescente maior, o Banco Master passou a considerar a linha do FGC para fazer frente às suas obrigações.
Pessoas a par das negociações envolvendo a venda do Master afirmam que o objetivo é fazer uma combinação desse suporte do FGC com a venda de ativos de Daniel Vorcaro, controlador do Master, como a participação na mineradora Itaminas e na seguradora Kovr, que não estão no balanço do banco.
O entendimento é que esse fôlego permitiria à instituição financeira suportar os vencimentos mais curtos de dívidas – cerca de R$ 500 milhões por mês – enquanto negocia “sem a faca no pescoço” a venda de bens. Entre os interessados citados estão os irmãos Joesley e Wesley Batista, da J&F; André Esteves, do BTG; e os fundos Pátria e Latache.
Master faz pedido por linha de liquidez ao FGC e evita vender ativos antes da resposta do fundo Foto: Banco Master
No passado, o FGC deu suporte semelhante de liquidez – ou seja, um empréstimo – a outros bancos em situações de fusão, aquisição ou sob estresse, como quando o dono do BTG, André Esteves, foi preso, em 2015. O fundo tem natureza privada, é controlado pelos bancos privados e é abastecido com uma fração dos depósitos feitos por correntistas no setor financeiro.
A expectativa é de que a resposta do FGC saia nos próximos dias, junto com a análise do BC sobre a oferta do BRB – o que poderia dar uma resposta completa sobre o que acontecerá com o Banco Master.
Pessoas próximas ao FGC ouvidas pela reportagem entendem que a aprovação de qualquer linha de assistência só poderia ser avalizada após a autorização pelo Banco Central do negócio com o BRB – cuja assinatura do contrato foi barrada pela Justiça (leia mais abaixo).
Para que o FGC consiga fazer a análise de risco para o sistema financeiro e ofereça recursos ao Master, é preciso que o escopo da operação esteja oficialmente definido. Ou seja, que seja concluída a delimitação dos ativos do Master que vão ser absorvidos pelo BRB.
Como mostrou o Estadão em 5 de abril, a linha de socorro ao Master pelo FGC já estava em negociação. O empecilho era a resistência dos grandes bancos, notadamente o Itaú, que viam no socorro um “risco moral”, de dar saída a uma instituição que cresceu nos últimos anos usando como isca um seguro que é compartilhado por todo o sistema bancário.
O argumento a favor do Master, no entanto, é de que a linha de socorro é um empréstimo, e que a eventual quebra do banco representaria um problema ainda maior, uma vez que o FGC seria convocado para indenizar investidores que compraram os CDBs do Master. O FGC garante até R$ 250 mil por CPF por instituição bancária.
O Master experimentou um crescimento vertiginoso nos últimos anos e, em 2024, praticamente dobrou de tamanho, tendo como estratégia captar recursos de investidores prometendo taxas de retorno muito acima das oferecidas no mercado.
Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, se reuniu com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e com o diretor de Regulação, Gilneu Vivan, para tratar do tema. Já é a terceira vez que Vorcaro encontra Galípolo desde que a venda do banco veio a público.
O BRB encaminhou ao Banco Central toda a documentação relativa à venda, incluindo informações adicionais solicitadas pela autoridade monetária.
O escopo final da operação deve deixar R$ 33 bilhões em ativos com o presidente do Master, Daniel Vorcaro. Outros R$ 7 bilhões ficariam com o Banco Voiter, a ser comandado por Augusto Lima, atual sócio de Vorcaro e um dos responsáveis pelo Credcesta, negócio que administra a carteira de crédito consignado.
Cerca de R$ 43 bilhões devem ser absorvidos pelo BRB, que deverá criar um banco de investimentos como subsidiária. No total, segundo dados do Banco Central, o conglomerado Master tinha R$ 82 bilhões em ativos registrados em dezembro de 2024.
Justiça suspende assinatura do contrato
Na última terça-feira, uma decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) aceitou um pedido do Ministério Público do Distrito Federal (MP-DF) impedindo que o BRB assine contrato definitivo para adquirir 58% do capital total do banco Master.
No Master, segundo apurou a reportagem, a decisão não preocupa, e a previsão é que haja uma assembleia do BRB para confirmar a operação após a conclusão das análises pelo Banco Central.
Segundo o MP, há irregularidades na operação, entre elas, o fato de o conselho de administração do BRB não ter convocado uma assembleia de acionistas para deliberar sobre a compra. Além disso, o MP questiona a falta de autorização do Legislativo do DF para a operação. Com isso, a compra em definitivo está suspensa até que o mérito seja julgado pela Corte.
Em comunicado ao mercado, o BRB afirmou que os “atos preparatórios” para o fechamento do negócio continuam.
“A referida ação determina que o BRB não assine contrato definitivo referente à aquisição da participação acionária no banco Master, objeto de fato relevante divulgado no dia 28 de março de 2025. A decisão liminar, no entanto, autoriza expressamente a continuidade dos atos preparatórios à operação, e sendo definida data para deliberação sobre a assinatura do contrato de aquisição, o BRB deverá informá-la nos autos”, diz o comunicado.
Fonte ONU